Por AFP, Carta Capital
A ex-presidente da Bolívia Jeanine Áñez foi presa na madrugada deste sábado 13 devido a uma investigação sobre um suposto golpe de Estado contra o ex-presidente esquerdista Evo Morales.
A televisão boliviana mostrou Áñez chegando ao aeroporto de El Alto, que serve La Paz, momento em que ela acusou sua prisão como “ilegal”. Junto a ela, que não estava algemada, estavam o ministro do Governo (Interior) Carlos Eduardo del Castillo e vários policiais.
“Informo ao povo boliviano que a senhora Jeanine Áñez já foi apreendida e neste momento está nas mãos da polícia”, anunciou antes Del Castillo em suas contas do Twitter e Facebook, parabenizando as forças de ordem pelo seu “grande trabalho (…) nesta grande e histórica tarefa de fazer justiça ao povo boliviano”.
A ex-presidente denunciou nas redes sociais “um ato de abuso e perseguição política”.
O governo “me acusa de ter participado de um golpe de Estado que nunca aconteceu”, disse Áñez em sua conta do Twitter.
Até o momento, não se sabe onde ela foi presa. No dia anterior, havia um grupo de policiais em frente à sua casa na cidade amazônica de Trinidad, capital do departamento de Beni, localizada 600 km ao nordeste de La Paz.
Sedição, terrorismo, conspiração
O Ministério Público da Bolívia emitiu na sexta-feira 12 uma ordem de prisão contra a ex-presidente de direita e vários de seus ministros, denunciados por crimes de sedição, terrorismo e conspiração.
Dois deles, Álvaro Coímbra, ex-chefe da Justiça, e Rodrigo Guzmán, da Energia, foram detidos em Trinidad e transferidos para La Paz.
A ordem do MP partiu de uma denúncia apresentada em dezembro passado por Lidia Patty, ex-legisladora do governante Movimento Ao Socialismo (MAS, esquerda), de Morales.
Em sua denúncia, Patty afirmou que o líder civil da região de Santa Cruz (leste), Luis Fernando Camacho, Áñez, vários ex-ministros, ex-militares, ex-policiais e civis promoveram a queda de Morales em novembro de 2019, após 14 anos no poder.
Áñez substituitu Morales constitucionalmente após sua renúncia em novembro de 2019 em meio aos protestos após eleições denunciadas como fraudulentas. Liderou o governo até novembro de 2020, quando o atual presidente Luis Arce foi eleito.
Em uma carta, Camacho alertou que “os bolivianos não ficarão de braços cruzados diante do abuso” e garantiu que não deixará o país. Camacho venceu a eleição do fim de semana passado para governador da rica região de Santa Cruz (leste) com mais de 55% dos votos.
A ordem dos promotores abrange também os ex-ministros Arturo Murillo (Interior), Luis Fernando López (Defesa) e Yerko Núñez.
Protestos da oposição
O ministro da Justiça Iván Lima e o presidente do Senado e poderoso líder oficialista Andrónico Rodríguez, afirmaram que a Justiça está agindo com independência do poder político e negaram uma perseguição.
“Nós não podemos interferir nos casos levados pelo Ministério Público e pela Justiça. São casos que eles devem tratar com objetividade e independência”, afirmou Lima.
Rodríguez reiterou separadamente a narrativa oficialista de que no final de 2019 houve um golpe de Estado e ressaltou que o que está acontecendo agora “não é perseguição, é justiça”.
Os ex-presidentes da Bolívia – o centrista Carlos Mesa (2003-2005) e o direitista Jorge Quiroga (2001-2002) – rejeitaram separadamente as prisões e ordens de prisão. Ambos foram atores-chave para a transição do governo de Morales para o de Áñez em 2019.
“Estamos em um processo de perseguição política pior do que nas ditaduras. Está sendo executado contra quem defendeu a democracia e a liberdade em 2019”, disse Mesa no Twitter.
Quiroga, no mesmo caminho, apontou que “começa uma caça à vingança” e o presidente Arce respondeu a ele que “é um aprendiz de tirano”.
Um grupo de opositores impulsionou protestos em todo o país em 2019 após as eleições de outubro desse ano, denunciadas como fraudulentas a favor de Morales, que buscava um quarto mandato.
Morales buscou refúgio no México e um mês depois foi para a Argentina, onde ficou refugiado até a eleição de Arce.
Um grupo de investigadores da Comissão Interamericana de Direitos Humanos (CIDH) está na Bolívia indagando o ocorrido no final de 2019.
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