Enquanto mercado doméstico cai 6% no mês, o fluxo de capital estrangeiro soma R$ 2,4 bi desde as eleições

Por Luíza Lanza / estadão.com

Novembro foi marcado pela reação negativa do mercado à eleição de Luiz Inácio Lula da Silva para o cargo de presidente da República. Até esta segunda-feira (28), a dois dias do fechamento do mês, o Ibovespa-1,39% acumulava uma desvalorização mensal de 6,27%. Mas no meio de toda essa volatilidade, tem um investidor que não parece estar tão assustado assim: o gringo.

O gringo não tem medo do Lula? Capital estrangeiro está em alta na B3
Fluxo estrangeiro segue positivo desde o fim do 2º turno das eleições. Foto: Werther Santana/Estadão
  • Um levantamento do TradeMap mostra que a bolsa brasileira recebeu R$ 2,4 bilhões em capital estrangeiro entre a eleição de Lula e a última quinta-feira (24)
  • Com alguns pregões de saída de capital, especialistas explicam que os gringos não estão imunes à incerteza fiscal
  • Mas a expectativa é de que continuem no Brasil, mercado de destaque no momento entre os emergentes

Um levantamento feito por Einar Rivero, do TradeMap, mostra que a Bolsa brasileira recebeu R$ 2,4 bilhões em capital estrangeiro entre a eleição de Lula e a última quinta-feira (24). Desses, R$ 1,9 bi entrou somente no dia 31 de outubro, o primeiro pregão após o segundo turno. O saldo é consideravelmente maior do que o registrado em setembro, quando o fluxo gringo foi de apenas R$ 585,3 milhões.

“Temos algumas incertezas por conta da política, mas o Brasil continua sendo uma ilha de investimentos”, diz Kaue Franklin, especialista de renda variável da Aplix Investimentos. É o País emergente mais propício para a alocação, que tem mais oportunidades e várias empresas bastante descontadas, por isso os gringos continuam entrando no Brasil”, afirma.

Franklin explica que, no relativo, os investidores estrangeiros se assustam menos com a perspectiva de um novo governo Lula, que não é suficiente para afastá-los do Brasil. Ao menos, não completamente. Mas os números do TradeMap mostram que os gringos não estão 100% imunes à volatilidade causada pelas incertezas fiscais.

PEC de Transição, que propõe retirar o Bolsa Família do teto de gastos por tempo indeterminado, tem causado pregões de muita oscilação. Inclusive para o fluxo de capital estrangeiro.

Um exemplo disso são os pregões dos dias 09 e 11 de novembro. No primeiro, dia em que o Ibovespa caiu 2,22%, o fluxo estrangeiro foi negativo em R$ 2,1 bilhões; o maior resgate desde as eleições. Já o segundo teve a maior entrada do período analisado, com os gringos alocando R$ 2,2 bi em um dia que a bolsa brasileira subiu 2,26%.

Para Kaue Franklin, os estrangeiros também estão acompanhando as notícias do novo governo, aproveitando as brechas para realizar lucros nas posições no mercado brasileiro. “Vimos uma diminuição nessa entrada de capital e até mesmo alguns dias negativos, mas podemos olhar para isso muito mais como uma realização de lucros do que um sinal de que eles acreditam que o Brasil vai derreter”, diz o especialista da Aplix.

O gringo vai ficar?

Apesar do ruído político com o novo governo ainda estar presente, a tendência é que o fluxo de capital estrangeiro na B3 continue positivo. Segundo os especialistas, os gringos devem continuar sendo atraídos para o mercado brasileiro, principalmente por alguns fatores.

O primeiro deles é o atual nível de desconto na Bolsa. “Em termos de valuation, hoje a Bolsa opera perto de 6,5 vezes o preço sobre lucro (P/L), contra um histórico de 12 vezes. O recado é que a bolsa brasileira está barata”, destaca Marcelo Boragini, sócio da Davos Investimentos.

Se já não bastasse o preço “barato” dos ativos brasileiros, os pares emergentes se encontram em um momento pior do que o Brasil, que saiu na frente no aperto monetário e agora vislumbra os primeiros cortes na taxa de juros enquanto outros países ainda estão no meio do ciclo. Outras economias têm problemas ainda maiores, como a Rússia ainda em guerra e a China com a desaceleração da atividade causada pela política de lockdowns.

Contexto global que faz o Brasil parecer a última opção que sobrou – o TINA (There is No Alternative), como contamos nesta entrevista com Fernando Ferreira, estrategista-chefe da XP.

Na hora de decidir onde alocar, os investidores estrangeiros se baseiam nesse cenário relativo entre os países. E, frente a problemas maiores, o risco fiscal parece uma incerteza menor, dado que Lula já conhecido pelos investidores estrangeiros.

“Em um momento de muito receio referente a uma possível recessão global, uma expectativa ‘menos pior’ que as alternativas é suficiente para que o gringo olhe para o Brasil com mais carinho”, diz Eduardo Grübler, gestor de renda variável da Warren Asset.

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