É como disse Freud: “Tais erros não são apenas erros, não são falhas sem significado. Se investigarmos o porquê de acontecerem, veremos que – por outro ponto de vista – o erro é um acerto”.
Por Jackson César Buonocore / psicologiasdobrasil.com.br
Um ato falho, por vezes também chamado de ato falhado ou ainda conhecido como lapso freudiano, deslize freudiano, parapráxis ou parapraxia – sendo também utilizado o termo latino lapsus linguae) -, é um ato que difere do significado ao qual a intenção consciente do sujeito desejaria atribuir. O conceito de ato falho provém da expressão latina “lapsus linguae”, que se constitui em um erro na fala, na memória, na escrita ou numa ação, que são o múnus entre o inconsciente e o consciente.
Para a psicanálise, o acesso ao inconsciente é sinuoso e pode ser inteligível por erros, lapsos e distrações. Por isso, os atos falhos são um recurso eficaz para acessar o nosso inconsciente.
Eles surgem em nossos erros corriqueiros. Mas estão no locus do discurso verbal ou dos desejos reprimidos, afetando até a nossa percepção, que se vê enredada pelas fixações do inconsciente. Em 1901, Freud publicou a obra A Psicopatologia da Vida Cotidiana, que têm no âmbito dos seus objetivos analisar como o inconsciente revela os erros e falhas cotidianas, que são classificados por:
1. Atos falhos na linguagem: fala escrita, leitura;
2. Atos falhos de esquecimento: falha na memória;
3. Atos falhos no comportamento: cair, quebrar, derrubar, tropeçar, etc.
Os atos falhos não se constituem só erros ou falhas sem significado, mas também em acertos na perspectiva do desejo inconsciente. É como disse Freud: “Tais erros não são apenas erros, não são falhas sem significado. Se investigarmos o porquê de acontecerem, veremos que – por outro ponto de vista – o erro é um acerto”.
Linguagem: Um exemplo, o cônjuge que troca na sua fala o nome da esposa pelo da amante. E a mulher que persiste em chamar o atual marido pelo nome do ex-companheiro.
Esquecimento: Outro exemplo simples é quando nos esquecemos de ligar para alguma pessoa. Porém, se formos investigar, notaremos que seria como se “o nosso eu” não desejasse ligar.
Comportamento: A célebre frase do personagem Chaves, que exprime: “Foi sem querer, querendo”. Ele é um menino travesso na vila onde mora, que manifesta os seus atos falhos sem querer (consciente), mas também querendo (inconscientemente).
Linguagem/esquecimento: Uma jovem perdeu seu cachorrinho de estimação. O cãozinho era traquina e a moça reclamava por ele ser dessa maneira. Transcorrem alguns dias ela ganha outro filhote de alguém, que tenta confortá-la. No entanto, a garota chama sempre o novo pet pelo nome do antigo, porque ela deseja que seu bichinho esteja vivo.
É através dos atos falhos, que vamos vivenciar um conflito entre um traço mnêmico, ou seja, a forma de como os estímulos se inscreve em nossa memória, depositados no inconsciente e consciente. Então, os nossos atos falhos são causados por uma formação de compromisso entre dois significantes, um do lado do desejo e o outro do lado da repressão.https://a9fb21267ed8ce7779dc43c2bd3970dc.safeframe.googlesyndication.com/safeframe/1-0-38/html/container.html
Portanto, os atos falhos acontecem sem querer, querendo, como repete Chaves. E quais são os seus? No momento que conseguimos identificá-los podemos entender as questões que ficaram mal resolvidas dentro de nós, que tentamos encobrir de alguma forma. Afinal, é preciso dar atenção aos atos falhos, pois deles virão os ajustes e os acertos necessários.
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