O impacto da Inteligência Artificial e um desafio para testar a sua”

Por: Kennedy Gomes de Alecrim/ Redação

A inteligência artificial tem transformado não apenas a forma como interagimos com a tecnologia, mas também como lidamos com nossas próprias capacidades mentais — especialmente a memória. Ferramentas como o ChatGPT estão cada vez mais presentes no cotidiano, auxiliando em tarefas, respondendo dúvidas e até escrevendo textos. Mas, afinal, o que essa delegação de funções cognitivas está fazendo com a nossa memória?

Antes de mais nada, é importante compreender o que é memória sob a perspectiva da psicologia. A memória é um dos processos psicológicos básicos, ao lado da percepção, atenção, motivação e linguagem. Trata-se da função mental responsável por codificar, armazenar e recuperar informações. Em termos simples: é por meio da memória que somos capazes de registrar experiências, aprender com o passado e planejar ações futuras. Ela se divide em três etapas principais: codificação (processo de registrar a informação), armazenamento (manutenção dessa informação ao longo do tempo) e recuperação (capacidade de acessar a informação quando necessário).

Além disso, os psicólogos identificam diferentes tipos de memória: a memória sensorial (ultrarrápida e momentânea), a memória de curto prazo ou operacional (que mantém informações ativas por poucos segundos ou minutos), e a memória de longo prazo (onde são armazenadas experiências, conhecimentos, habilidades e significados por um tempo mais duradouro).

Pesquisadores como Daniel Wegner já alertavam, ainda nos anos 1980, sobre a existência da “memória transacional” — uma forma de memória distribuída, em que confiamos em outras pessoas (ou, mais recentemente, em dispositivos e plataformas digitais) para lembrar por nós. Ou seja, não precisamos lembrar de tudo, apenas lembrar quem ou o que pode nos fornecer determinada informação. Esse conceito ganhou nova relevância na era digital, especialmente com o uso intensivo de assistentes de IA como o ChatGPT.

Com isso, um fenômeno estudado por Sparrow, Liu e Wegner (2011) e chamado de “efeito Google” passou a ser intensificado. De acordo com os autores, quando temos consciência de que uma informação está disponível em fontes externas e acessíveis, como o Google ou o ChatGPT, tendemos a não memorizar esse conteúdo, confiando que poderemos acessá-lo novamente. Isso diminui a consolidação da memória de longo prazo e afeta diretamente o processo de aprendizagem.

Além disso, neurocientistas têm destacado que a prática constante de recorrer a respostas externas pode levar ao desuso das vias neurais relacionadas à memória e à atenção. Embora a tecnologia possa servir como uma aliada no processo de aprendizagem, seu uso passivo pode reduzir a plasticidade cerebral, dificultando a retenção e a evocação de conteúdos.

🧠 Índice de Delegação Cognitiva à Tecnologia

Responda às afirmações abaixo com sinceridade. Ao final, você verá seu resultado automaticamente.

  1. Sempre que preciso lembrar algo importante, prefiro anotar em um aplicativo ou buscar na internet.
  2. Costumo esquecer informações porque confio que posso encontrá-las online a qualquer momento.
  3. Evito memorizar números ou datas, pois prefiro recorrer à tecnologia quando necessário.
  4. Já me peguei perguntando ao ChatGPT ou Google coisas que eu já sabia, mas não quis lembrar.
  5. Sinto que minha capacidade de lembrar informações vem diminuindo com o uso constante de tecnologia.

Para refletir sobre isso de maneira leve, mas profunda, convidamos você a participar de um simples jogo da memória com emojis. A proposta é exercitar sua memória de curto prazo e, ao mesmo tempo, pensar: como está a sua capacidade de lembrar? Quando foi a última vez que você confiou apenas no seu próprio raciocínio para buscar uma informação?

Jogue agora. Conte seus movimentos. E depois compartilhe com a gente: como você cuida da sua memória no mundo digital?

🧠 Avalie sua performance:

  • Até 18 movimentos: Parabéns! Sua memória de curto prazo está afiada como um raio. Continue exercitando!
  • 🟡 De 19 a 26 movimentos: Você está no caminho certo, mas pode estar confiando demais no piloto automático. Tente praticar mais desafios mentais.
  • 🔴 Acima de 27 movimentos: Atenção! Isso pode ser um sinal de que sua memória de curto prazo está precisando de estímulo. Será que a tecnologia está fazendo você relaxar demais?

Lembre-se: o objetivo não é competir, mas refletir sobre o uso da sua mente em tempos de inteligência artificial. Cada jogada é uma oportunidade de reconexão com sua própria capacidade de lembrar, focar e aprender.

Movimentos: 0

Referências

Sparrow, B., Liu, J., & Wegner, D. M. (2011). Google effects on memory: Cognitive consequences of having information at our fingertips. Science, 333(6043), 776–778. https://doi.org/10.1126/science.1207745

Wegner, D. M. (1985). A computer network model of human transactive memory. Social Cognition, 3(4), 351–376. https://doi.org/10.1521/soco.1985.3.4.351

Murre, J. M. J., & Dros, J. (2015). Replication and analysis of Ebbinghaus’ forgetting curve. PLOS ONE, 10(7), e0120644. https://doi.org/10.1371/journal.pone.0120644

Atkinson, R. C., & Shiffrin, R. M. (1968). Human memory: A proposed system and its control processes. In K. W. Spence & J. T. Spence (Eds.), The psychology of learning and motivation (Vol. 2, pp. 89–195). Academic Press.

Baddeley, A. D. (1992). Working memory. Science, 255(5044), 556–559. https://doi.org/10.1126/science.1736359

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