Por ISTOÉ
Ao longo da história da humanidade as guerras foram o meio pelo qual os seres humanos, em muitos momentos, evoluíram. Em meio à violência e à morte, novas tecnologias eram criadas e se tornavam de uso comum a partir de conflitos bélicos. Uma das frentes em que mais houve evolução a partir do século XVI foi a navegação. Grandes embarcações foram construídas e se transformaram em armas de combate cada vez mais letais. É o caso do gigante Delmenhorst, último barco de guerra perdido na Batalha de Fehmarnbelt, em 1644.
O conflito náutico foi importante para determinar a soberania dos mares do norte em meados do século XVII. Na ocasião, as tropas dinamarquesas foram derrotadas pela aliança sueco-holandesa e desde então ninguém soube do paradeiro do navio de guerra.
A embarcação, descoberta por acaso por arqueólogos do Museu do Navio Viking, na Dinamarca, estava submersa a 3,5 metros de profundidade e a apenas 150 metros da costa sul de Lolland, ilha local. Segundo registros históricos, na batalha de Fehmarnbelt o rei Cristian IV enviou mais de 20 barcos para defender seu território, mas não foi o suficiente para vencer. Em fuga, diversos navios tentaram retornar para Copenhagen, capital da Dinamarca, e naufragaram.
Análises preliminares afirmam que o barco estava repleto de explosivos de canhão, moedas de ouro e objetos de cerâmica. As dimensões impressionam. Ele tinha cerca de 33 metros de comprimento, oito metros de largura e abrigava 46 canhões. Além disso, a tripulação era composta por aproximadamente 80 soldados. “É o último dos navios naufragados na batalha de Fehmarnbelt, em 1644. Essa descoberta é emocionante”, disse Morten Johansen, inspetor do Museu do Navio Viking.
Morten afirma que a superioridade das tropas sueco-holandeses era notória. Eles tinham 42 navios contra 17 dos dinamarqueses. Por isso, quando encalharam perto da costa sul de Lolland, no fim do conflito, os navegantes do Delmenhorst estavam encurralados. Temendo os inimigos, a tripulação virou os canhões para o mar e esperou pelo pior. Na sequência, a frota sueco-holandesa ateou fogo em um navio e enviou na direção dos dinamarqueses. A estratégia foi bem sucedida e encerrou a guerra. “O navio está no mesmo lugar há mais de 400 anos”, conta.
Para Gustavo Assi, professor de Engenharia Naval da Escola Politécnica da Universidade de São Paulo (USP), a descoberta do navio é de extrema importância para o setor náutico, além de englobar importantes aspectos da história. “Não existia arma mais poderosa do que os navios de guerra no século XVII”, diz. “Eles eram velozes e tecnológicos, sem contar que a Dinamarca era uma potência naval”, afirma.
De acordo com arqueólogos do Museu do Navio Viking, em 2012, duas embarcações naufragadas na batalha de Fehmarnbelt foram achadas durante obras em um túnel que ligará Dinamarca e Alemanha até 2029. Para Gustavo Assi, mesmo que o Museu do Navio Viking seja financiado pelo projeto do túnel e a tecnologia de reconstrução tenha avançado, o estado de deterioração do Delmenhorst é avançado.
“O navio foi bombardeado, pegou fogo, é difícil salvar. O bom é que algumas peças recuperadas irão para os museus dinamarqueses”, diz Assi. O historiador Diego Amaro, do Centro Universitário Salesiano de São Paulo, acrescenta que “descobertas como essa completam lacunas faltantes da história.” Os arqueólogos envolvidos estão correndo contra o tempo para coletar o máximo de objetos do navio antes ele seja coberto com areia e incorporado ao solo local novamente.
Parte destas relíquias será destinada ao Museu do Navio Viking, um dos mais famosos do mundo por conta de suas obras náuticas. Lá, encontra-se parte dos navios utilizados no passado, alguns datados em mais de 2 mil anos. Especialistas relatam que já existem ideias de tornar o acervo digital. Se isso acontecer, um importante capítulo da história e da tecnologia das navegações se tornará mais acessível e conhecido.
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