Por: Stephanie Abdalla, especial para o Bom Gourmet

Algumas das principais redes de microcafeterias incentivam novos franqueados com isenção ou flexibilização das taxas cobradas. Ao contrário do tradicional modelo de cafeterias apreciado ao redor do mundo por oferecer um espaço aconchegante onde pessoas se aglomeram por horas para todo o tipo de reuniões, as microcafeterias surgiram para atender às típicas demandas urbanas: falta de espaço, falta de tempo e a necessidade de consumir serviços ágeis, sem perder a qualidade.

Tendência microcafeterias
Foto: André Henning/GoCoffee divulgação

Somadas à preocupação com a procedência dos produtos e a segurança na maneira de consumi-los, elas exprimem ainda os hábitos de consumo cultivados e exercitados durante a pandemia da Covid-19. O modelo conhecido como “grab and go”, que já vinha se consolidando no Brasil nos últimos anos, acabou impulsionado e não dá sinais de que vai arrefecer tão cedo.

E não para por aí. Além da facilidade de operação de microcafeterias, o investimento neste formato também se mostra sustentável pela gestão simplificada e custos reduzidos. Hilson Guerim, diretor de expansão e novos negócios da rede curitibana Mais1 Coffee explica que o modelo supre a vontade que muitos empreendedores têm de estar no setor de alimentação, mas com um conhecimento mais específico e menos complexo.

“No geral, negócios mais minimalistas com redução de funcionários e estruturas menores terão grande representatividade no mercado. No setor, especificamente, as microcafeterias permitem a entrega de um produto de extrema qualidade, com preço muito acessível”, afirma o diretor.

Além disso, ele explica que é um tipo de negócio que permite muito mais autonomia e agilidade ao cliente, ao mesmo tempo que oferece o diferencial da experiência. É algo semelhante do feito na GoCoffee, outra rede criada na capital paranaense que aposta na humanização do atendimento.

André Henning, sócio-proprietário da marca, conta que a ideia do “grab and go” também representa uma espécie de pausa rápida na rotina do dia a dia.

“Esses ‘respiros’ do trabalho e das obrigações são essenciais e acreditamos que, durante aqueles dois minutos em que o cliente espera por seu pedido, uma simples conversa com o barista pode ser mais significativa do que horas dentro de um salão, caso o atendimento não seja adequado”, diz ele.

Rede de micro cafeterias Mais1 inaugura oitava unidade em Curitiba
A nova loja vai disponibilizar copos especiais para que os clientes consumam a bebida na rua ou onde queiram. (Foto: Divulgação)

A aposta no modelo ágil de atendimento e de respiro na rotina foi o mote da The Coffee, uma das primeiras redes de microcafeterias do Sul do país. A marca surgiu em Curitiba em meados de 2018 replicando o modelo muito comum no Japão, tanto que a logomarca é feita de algarismos do alfabeto kanji, com a expectativa de alcançar mais de 200 pontos em até cinco anos.

Após dois anos se consolidando enquanto marca e buscando compreender melhor as demandas dos consumidores, os proprietários da GoCofee optaram por expandir o negócio e começar a comercializar franquias.

A decisão foi tomada em novembro do ano passado e, mesmo em meio à pandemia, rendeu frutos satisfatórios que provaram aos empreendedores que o modelo das microcafeterias é ideal para o contexto pelo qual o Brasil está passando.

Em poucos meses, a rede já conta com 30 unidades em funcionamento espalhadas por diferentes estados no país, e a expectativa é de encerrar 2020 com 40 lojas vendidas — dobrando este número até o fim do ano que vem. Henning, atribui o rápido crescimento da rede aos incentivos dados aos novos franqueados.

“Nós temos nossa própria linha de insumos e, então, lucramos com os franqueados em cima disso. Por consequência, não cobramos royalties. Para os lojistas isso é ótimo, pois os gastos que ele têm com os insumos já teriam de qualquer jeito”, explica André.

Franquia com capacitação

Já na Mais1 Coffee, a venda de franquias começou em meados de dezembro e já conta com 140 unidades vendidas, das quais 24 já estão abertas.

O processo de venda das franquias, segundo o diretor de expansão, Hilston Guerim, começa com uma entrevista bastante pessoal para que seja possível alinhar as expectativas do empreendedor com a realidade da marca, como a participação ativa no dia a dia da operação. Ele explica que muitos dos candidatos a franqueados são funcionários que desejam abrir o próprio negócio.

“Oferecemos treinamento de barista para todos os nossos franqueados. Isso aumenta a qualidade do serviço que a marca entrega aos consumidores e garante aos proprietários uma satisfação que vai além do aspecto financeiro”, conta.

O investimento previsto em uma franquia da Mais1 Coffee é de R$ 110 mil, dos quais R$ 35 mil representam a taxa de franquia. A partir da inauguração, uma taxa de 7% sobre o faturamento total é cobrada.

Expectativa atendida

O caso de Paulo Teixeira é exatamente como o descrito por Hilston: após dez anos trabalhando no setor de TI de uma multinacional, ele decidiu dar ouvidos ao seu espírito empreendedor. Mas não imaginou, logo de início, que isso aconteceria atrás do balcão de uma microcafeteria.

Em dezembro do ano passado, Paulo foi à inauguração de uma unidade do Mais1 Coffee e ficou intrigado com o modelo de negócios.

“Eu já conhecia esse formato de outros países, mas não muito aqui no Brasil e enxerguei uma possibilidade bacana de investimento”, conta.

No mês seguinte, Paulo assinou o contrato como franqueado, o terceiro da rede, e na primeira semana de março inaugurou seu ponto, na Rua Padre Anchieta. Com menos de uma semana de funcionamento, o empreendedor fechou as portas temporariamente por conta da pandemia.

“Quando reabri, no início de abril, assumi a operação no período da tarde para ter menos gastos com funcionários. Foi assim que eu apliquei o que tinha aprendido no treinamento que recebi”, lembra.

Nos primeiros dias de funcionamento, Paulo conta que atendia uma média de 12 pessoas ao dia. Agora esse número já aumentou para 100, o que o faz acreditar no produto que comercializa e no potencial do negócio no qual apostou.

“Eu recomendo o modelo de franquias para quem tem vontade de empreender e nunca teve um negócio. Com a franquia você sai muito à frente, pois recebe uma bagagem de quem já tem conhecimento e, ao mesmo tempo, tem a oportunidade de focar no negócio sem se preocupar com desenvolver a parte de produto e marketing”, explica.

O primeiro de muitos

A primeira franquia da GoCofee também fica em Curitiba, na Rua Emiliano Perneta. A motivação para abri-la veio de um sonho que a médica Melanie Diaz tinha de ser dona de uma cafeteria.

Ela já era cliente da marca e decidiu investir com o marido, Bruno Teixeira, assim que soube do projeto de expansão. O casal inaugurou a loja em abril e, assim como Paulo, assumiu parte da operação para economizar com funcionários.

“O processo foi muito confuso no começo, tínhamos pouco conhecimento de gestão e nenhuma referência, mas a equipe da franqueadora nos apoiou muito, desde sempre”, revela Bruno.

Hoje, ele conta que se enxerga como multiplicador de padrões e de treinamento, pois vários franqueados novos o procuram para receber orientação. Dentre suas dicas mais frequentes, a principal é a preocupação com o ponto, que deve ser híbrido – podendo atender regiões residenciais e comerciais – e representar um investimento enxuto.

Além disso, Bruno afirma apostar bastante no formato “to go”, que, nem no pior momento da pandemia, deixou de funcionar.

“Todo negócio tem um ápice e eu acho que nem chegamos perto do ápice das microcafeterias. É uma tendência que vamos ver se expandir muito nos próximos anos porque representa um negócio extremamente adaptável e que atende demandas diversas. Vejo um cenário muito positivo pela frente”, completa.

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