Por: Marina Dayrell – O Estado de S. Paulo5 Jul 2020 via @EstadaoEconomia

A inteligência artificial (IA) está em todos os lugares e também no mercado de trabalho. Você pode não perceber, mas talvez seja mais fácil entender parte dessa tecnologia nos últimos meses de quarentena. Para quem ficou em casa, o home office só foi possível graças a IA.

As videoconferências com a sua equipe? Inteligência artificial. Os resultados de busca no Google? IA! O processo de logística das encomendas pela internet? IA de novo! O primeiro parágrafo desta reportagem, por exemplo, não foi escrito por digitação, mas por um comando de voz, que também usa inteligência artificial para transformar as palavras ditas em texto.

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“Existe um medo em relação ao impacto da IA no mercado de trabalho, assim como existia um medo em relação ao software. A inteligência artificial é mais preocupante na visão de muitos analistas porque ela captura o aspecto que parece ser mais essencial para a gente, a inteligência. Imaginamos que, se tem uma máquina que é capaz de fazer coisas com inteligência, significa que postos de trabalho vão sumir”, diz o coordenador do curso de Ciência de Dados e IA da PUC-SP, Jefferson Silva.

A questão vem sendo debatida no mundo inteiro. Um estudo feito pelo pesquisador Michael Webb, da Universidade de Stanford, analisou o impacto da inteligência artificial no mercado de trabalho. Para a pesquisa, ele usou um software para cruzar informações de patentes com descrições de atividades profissionais. Por exemplo: ele viu que uma das tarefas de um gerente de vendas é avaliar os subordinados. Com isso, cruzou essa informação com as descrições de patentes que estão sendo desenvolvidas e encontrou as que têm como objetivo também avaliar profissionais.

Um dos resultados mais relevantes obtido é que a inteligência artificial já não impacta apenas os trabalhos operacionais, mas chega também às posições que exigem formação técnica. “Enquanto ocupações que exigem baixa qualificação são muito expostas a robôs e aquelas que exigem média qualificação são muito expostas aos softwares, são as ocupações que exigem alto nível de qualificação que estão expostas à inteligência artificial”, aponta o estudo.

O material foi analisado no Brasil pelo consultor para negócios baseados em inteligência artificial Igor Rocha e pela consultora especializada em recrutamento executivo Silvana Machado, que o adaptaram.

“Com a IA, um passo adicional é dado porque ela agrega capacidade analítica, que faz comparações e análises de dados. Isso vai de encontro com algumas atividades que já pressupõem informação, habilidade técnica, formação, que serão influenciadas pela IA, seja de maneira positiva ou negativa”, explica Rocha. “Toda vez que o processamento de um grande número

de dados for o suficiente para o resultado de uma atividade, provavelmente uma IA terá melhor desempenho do que o ser humano”, completa ele.

Segundo o consultor, além de cargos analíticos, os gerenciais que envolvem o monitoramento de pessoas ou atividades tam

bém são impactados pela IA. Posições como analista de mercado, especialista de marketing e gerente administrativo e de vendas são apontadas por ele.

O receio de perder o emprego para uma máquina é alvo de discussões sobre o futuro do trabalho desde a Revolução Industrial. Mas quando falamos de IA no mercado de trabalho não necessariamente estamos falando de substituição de profissionais. Os especialistas chamam a atenção para o fato de que uma atividade sofrer impacto da IA não significa que ele seja negativo. Ela também pode ser complementar e até fazer surgir novos cargos.

“A tecnologia tem o potencial de substituir tarefas específicas de uma profissão, mas uma profissão tem muitas tarefas. Algumas são substituíveis e em outras a gente não tem uma maneira abrangente, confiável e sólida cientificamente para fazê-las com grande propriedade. Então, tendo a achar alarmista a visão de que os empregos estão em risco”, explica o pesquisador Jefferson da Silva.

“A inteligência artificial vem como uma ferramenta muito importante para desonerar a liderança de trabalhos mais operacionais, repetitivos e processos com baixo impacto estratégico, habilitando novas possibilidades de tomadas de decisões. As ações tendem a ser cada vez mais rápidas, assertivas e baseadas em dados, fazendo com que estes cargos de liderança possam se dedicar a atuar naquilo que agrega mais valor”, afirma o diretor de Soluções de Recursos Humanos da Oracle Brasil, Maicon Rocha.

Novas exigências. Com algumas tarefas sendo realizadas pela IA, é esperado dos profissionais que se dediquem a outras atividades dentro da sua posição. Neste contexto, segundo a recrutadora Silvana Machado, a procura também é focada nas soft skills, capacidades exclusivas de humanos.

“Para liderar uma empresa ou setor, tem que ter a sensibilidade para gerenciar e skills de colaboração, comunicação efetiva e inclusão.”

Outra exigência é a demanda por profissionais que saibam lidar com atividades ligadas à IA. “Ela tem demandado profissionais com conhecimento de base, análise de dados, que consigam tirar boas ideias de novos produtos, de novas estruturas. Em uma empresa de logística, por exemplo, a IA ajuda a prever a quantidade de produtos e demanda e, com os dados, o profissional vai tomar a decisão se vai abrir ou fechar um entreposto”, diz o diretor de recrutamento da Robert Half, Caio Arnaes.

Os especialistas consultados chamam a atenção para o surgimento de cargos como diretor de IA, diretor de Data Science, head de technology, chief digital officer (CDO) e chief transformation officer (CTO).

“A ia vem como uma ferramenta importante para desonerar a liderança de trabalhos mais operacionais, repetitivos e processos com baixo impacto estratégico” Maicon Rocha (diretor de RH Oracle Brasil)

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