Por: Kennedy Gomes de Alecrim
Percebeu em você, ou em outra pessoa, sintomas emocionais de tristeza, nervosismo, irritabilidade, associados com coração acelerado, sensação de formigamento, falta de ar, sudorese, tontura, dor de cabeça, dores musculares, insônia ou associados a impulsividade, agressividade, fala acelerada? Você pode estar diante de um quadro de ansiedade. Nesse caso bem-vindo ao nosso tema desta matéria. Mas o que é ansiedade ?
Interferência na sua qualidade de vida
Talvez você ache que todos esses sintomas pareçam pouco claros, mas é porque a ansiedade faz parte da vida cotidiana e em algum momento eles sempre ocorrem a qualquer um. Na verdade, a ansiedade ansiedade generalizada está ligada ao medo, a apreensão, a um estado de tensão que aparenta antecipar algum perigo e todo mundo passou por isso um dia. O problema é quando você começa a perder o controle sobre a ansiedade. Por exemplo, quando a ansiedade interfere na sua qualidade de vida, mesmo não havendo aparente motivo (problemas) que justifique isso. Nesse caso você deve procurar ajuda especializada.
Mas se sua ansiedade for de curta duração, limitada a uma condição clara e pontual, não se preocupe tanto. Como foi dito, isso é normal e passa tão logo o problema seja identificado, minimizado ou eliminado. E nesse período de pandemia motivos não faltam para uma de ansiedade social de vez em quando. Nesse caso tome um chá, e reflita um pouco sobre os motivos e as suas limitações em trabalhar com essa situação. Isso vai ajudar. Nesse momento de isolamento social, diversas são as fontes de estímulos que geram ansiedade em qualquer faixa etária, inclusive crianças.
Ansiedade e falta de informação
A falta de informações claras sobre como ocorre o contágio do covid-19, sobre como identificar claramente os sintomas, ou mesmo sobre o que é realmente esse vírus, são pioradas pela instabilidade do emprego, aumento do desemprego, número crescente de mortos, restrições que obrigam uma mudança de comportamento entre pessoas próxima (conhecidos, parentes e amigos), entre outros diversos motivos. Portanto, somente se você fosse desprovido de sentimentos conseguiria ficar tranquilo nesse período em que vivemos. Espero que já esteja se sentindo melhor ou menos preocupada em achar que só você esteja desequilibrada.
Mas ninguém é uma ilha e a sua ansiedade, mesmo que justificada para você, vai atingir outras pessoas ao seu redor, pois nesse cenário qualquer relacionamento de anos pode não suportar. Fato é que diversos casais, que moravam juntos se separaram nesse período, e outros tantos que estavam namorando terminaram pela internet mesmo. Procure por “termino de namoro pela internet” no Google. Você vai se surpreender. Têm até site com frases prontas para você usar.
Para os casais que não terminaram ainda sobrou a possibilidade do aumento da violência doméstica e o consumo de bebidas alcoólicas ou mesmo busca, incessantes por atividades “construtiva” na internet (cursos, palestras, dicas, home office, etc.). Tudo por conta de uma questão a qual fugimos constantemente. A ansiedade de estar refém do momento presente.
Uma discussão consigo mesmo
Em entrevista ao G1, em 2003, a terapeuta ocupacional Tereza Maria dos Santos já dizia que no estado de ansiedade, a maioria das pessoas fica com uma “tagarelice mental”, sempre pensando em coisas que não fez ou deixou de fazer ou coisas que tem por fazer. Quando o ansioso fica parado ele começa a vivenciar o presente, que de fato é a única coisa que se têm. O “momento presente” é a realidade como ela de fato é. E isso faz todo sentido nessa nossa realidade de pandemia, pois o isolamento levou o sujeito a uma convivência extenuante consigo e com os outros.
No primeiro momento houve uma sensação de ajuste e calma, como se tudo fosse passar em pouco dias, mas com o passar do tempo e com a condição forçada de convivência confinada, a tensão das pessoas tendeu a evidenciar os defeitos dos demais habitantes do mesmo espaço, deixando a capacidade de julgamento entre as virtudes e defeitos dos habitantes desse espaço meio “embaçada”. O que se percebe é que os defeitos são maximizados e as qualidades vistas como obrigação, minimizando ou extinguindo o reconhecimento delas. Essa é uma tendência em todo espaço confinado, inclusive no reino animal. Sim estou falando de tigres em jaulas.
Estado de ansiedade
Em um estado de ansiedade a pessoa pode começar a enxergar o que nunca existiu. Movida pelas emoções que mais têm haver com instinto de sobrevivência que pela razão. Nesse processo o que temos próximo nos começa a incomodar, mesmo que sem motivo aparente, e o que não podemos tende a trazer somente boas recordações. Sabe aquele momento em que você só se lembra da alegria com os amigos naquele bar, e não pensa mais que ele tinha péssimo atendimento, e que estava situado em uma zona perigosa da cidade sem lugar para estacionar? Que saudade…
Aliás, a saudade, mesmo que em breves momentos por dia, como ocorria no dia a dia habitual, antes da pandemia, auxilia a manter relacionamentos saudáveis. Quando você saia de casa, aquelas coisas que incomodaram você na noite de ontem vão se distanciando da realidade, perdendo a força e, chegando a ficar praticamente irrelevante, com o passar do dia. Inclusive, minha primeira dica é: com pandemia ou não, se puder esperar os ânimos se acalmarem para poder conversar, faça isso. Espere os sentimentos se separarem da razão.
Ansiedade como enfrentar o mal do século
Bem, agora que você entendeu o que pode estar ocorrendo com você, o que fazer? Creio que a saída é ter em mente que esse comportamento se justifica pela situação atual do planeta e, portanto, você não está sozinho, isso já ajuda. Tenha em mente que como você os demais também estão com medo, tendo dificuldades de manter a razão e tendem a expor emoções míopes. Dessa maneira, indicamos algumas ideias propostas pela OMS para auxiliar você:
- Use as redes sociais como aliadas, permanecendo conectado por e-mail, redes sociais, videoconferência e telefone mas selecione o que é importante para você, e quanto tempo você deve dedicar a isso. Procure manter os canais de informação confiáveis. Desconfie de canais otimistas demais ou pessimistas demais. Toda boa comunicação possui dois lados que se complementam.
- Seja solidário no que for possível. A sensação de fazer parte de algo diminui a sensação de vazio e de solidão. E contribui para uma sensação de paz interior.
- Pare e se escute. Durante os períodos de estresse, pare e preste atenção nas suas próprias necessidades e sentimentos. Procure atividades que você goste e que te façam relaxar. Também faça exercícios regularmente (mas não busque ser um atleta olímpico, seja realista nisso.
- Busque mantenha uma rotina de sono e procure se alimentar de forma saudável. Tudo isso vai colaborar com o seu corpo e a sua mente.
- Reconheça o trabalho dos profissionais de saúde e dos demais, inclusive voluntários, que estão à frente desta realidade, pode parecer estranho pensar que isso ajuda o controle de sua ansiedade, mas a justificativa para isso é que subconscientemente você alimenta suas expectativas e esperanças de que algo de bom está acontecendo. Lembra daquele sentimento de que a terra estava protegida ao assistir um filme do super-homem no cinema? É mais ou menos por aí.
- Espalhe histórias positivas, ou seja, na falta de um momento de vida agradável, recorde coisas boas e busque histórias de superação de pessoas que se recuperaram da covid-19 e compartilharam essa experiência.
- Controle seu acesso a informações sobre o covid-19. Se você não tiver algum tipo de filtro o excesso de informações, muitas vezes contraditórias, vai gerar ou agravar sua ansiedade. Cuidado especial com as chamadas Fake News, elas são criadas por motivos escusos e buscam, efetivamente desestabilizar qualquer grupo social.
Dicas minhas:
- Tome banhos de sol regularmente, de preferência de manhã.
- Busque, em sua crença, o acalanto para os momentos de maior crise
- Tenha, em seu espaço, um cantinho reservado. Somente seu, nem que seja um metro por um metro, ao lado de um vaso de plantas ou almofadas ou sei lá o quê. Isso pode ajudar você a se sintonizar com o seu eu interior e se acalmar.
Não dá para negar que estamos vivendo uma crise sem precedentes. É tempo de ficar ansioso sim, mas com moderação. Se depois de tudo o que foi dito você perceber que precisa de ajuda, procure um profissional. Isso não e demérito, é sobrevivência !
Fique bem.