O executivo Laércio Albuquerque conta como lidou com um esgotamento físico e emocional e precisou se afastar, temporariamente, para cuidar de sua saúde mental

Por Barbara Bigarelli / valor.globo.com

Quando, em junho de 2020, Laércio Albuquerque percebeu que precisaria se afastar de suas funções por estar enfrentando um esgotamento físico-emocional (burnout) sua primeira reação foi de medo. “Não tinha coragem de contar no trabalho, me sentia fraco [de expor isso]”, afirma o CEO da Cisco para América Latina.

Senti um medo terrível de contar que estava com burnout”, diz CEO da Cisco  | Carreira | Valor Econômico
Laércio Albuquerque, CEO da Cisco para América Latina conta como se vem se recuperando de um burnout — Foto: Divulgação

Além de lidar com ataques de pânico, idas e vindas ao hospital por medo de morrer, o processo de recuperação do executivo exigiu doses de aceitação e de autoconhecimento. “Para que eu me abrisse com os outros, precisei entender que todos nós somos vulneráveis, independentemente do nível na empresa e que a capa do executivo super-herói não existe”, conta o CEO no primeiro episódio da nova temporada do podcast CBN Professional. Realizado pelo Valor em parceria com a CBN

Albuquerque também conta que precisou aprender a se desconectar — não apenas de uma rotina exigente e demandante —mas que ele adorava — como também de seu celular, do e-mail corporativo aos aplicativos de mensagens, passando pelas redes sociais. “Após enfrentar os picos de estresse e o mal-estar que me levou ao hospital, percebi que a tecnologia pode ser uma benção ou uma maldição. Se não usarmos de forma correta, acaba ocupando toda nossa mente e todos os momentos de pausa que podemos ter”.

Ao longo da entrevista o CEO narrou o passo a passo de seu “detox digital”, que o fez rever o papel que a tecnologia ocupa em sua vida, até como planejou e conseguiu se manter cinco semanas totalmente distante da presidência da empresa. “Quando consegui contar o que estava passando, chamei a equipe, disse que precisaria me afastar e falei: apenas em caso de vida ou morte, por favor, liguem para minha esposa”.

Nesse afastamento, com o auxílio de sua família, o CEO não apenas redescobriu os jantares sem o incômodo de notificações do celular, como também reviu comportamentos que ele, como CEO, achava natural praticar em seu estilo de liderança. “Eu sempre fui muito perfeccionista, mas se o perfeccionismo foi o que me fez chegar onde cheguei na carreira, também foi o que me levou ao hospital. E, quando você não delega, você deixa seu perfeccionismo falar mais alto”. Aprender a delegar mais, não ceder a tentação de responder e-mails de madrugada ou cobrar respostas instantâneas da equipe e cultivar momentos de pausa entre reuniões e uma rotina intensa de trabalho são aprendizados cultivados pós-burnout, afirma.

Durante seu processo de recuperação, Albuquerque conheceu executivos e profissionais de vários níveis que passaram por experiências semelhantes. Inclusive no meio de uma pandemia.

O episódio do CBN Professional também traz o depoimento um ex-CEO de uma grande organização no Brasil. Com menos de 40 anos, ele decidiu largar a carreira executiva após enfrentar problemas de saúde graves e cinco cirurgias, frutos de anos de excesso de trabalho e de uma rotina exaustiva que focou demais na ascensão profissional. “Nada disso [sucesso] vale no momento que você está entubado. Os pensamentos que vêm não são da vida corporativa: são suas memórias, sua família, amigos. Durante esse período de recuperação, redefini minhas prioridades”.

O executivo pensou em como gostaria de gastar seu tempo, dedicou mais momentos para si e realizou o sonho de se casar com sua mulher, com quem já vivia há sete anos. Entre a gravação do episódio e o lançamento nesta semana, o ex-CEO foi contratado em uma posição de alta liderança de uma grande organização. “Eu amo trabalhar. É um valor. Eu sou melhor como indivíduo quando trabalho — entregando resultados e ajudando outras pessoas. Porém, tudo pode ser dosado melhor. A mesma métrica que você busca na vida corporativa tem que ter usada para sua vida pessoal. O que é inegociável? Quais são seus ‘KPIs’ da felicidade?”, reflete o executivo.

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