Por: Fontes bibliográficas abaixo by amenteemaravilhosa.com.br
- Bailey, C. L. (2010). Overexcitabilities and sensitivities: Implications of Dabrowski’s theory of positive disintegration for counseling the gifted. Counseling Outfitters.
- Dąbrowski, K. (1972). Psychoneurosis is not an illness. London, UK: Gryf.
- Mendaglio, S., & Tillier, W. (2006). Dabrowski’s theory of positive disintegration and giftedness: Overexcitability research findings. Journal for the Education of the Gifted 30, 68-87.
Pessoas com habilidades intelectuais elevadas costumam passar por várias crises existenciais. O psiquiatra Kazimier Dabrowski definiu esse fenômeno como desintegração positiva. Neste artigo, vamos falar sobre isso.
Existem muitos tipos de crises. Alguns caem para o lado do existencial, naquele abismo estranho, mas obsessivo, em que não param de se perguntar qual é o sentido do mundo, da vida e até deles próprios. Kazimier Dabrowski cunhou o termo “desintegração positiva” nos anos 60 para explicar esse fenômeno psicológico tão comum em pessoas com habilidades intelectuais elevadas.
Este conceito não deixa de ser interessante e ilustrativo. É como se as mentes desses adolescentes e adultos talentosos às vezes caíssem em uma espécie de desfragmentação. As mentes desmoronam (figurativamente) para se reintegrar de outra forma depois de ter encontrado as respostas, depois de ter encontrado significados vitais e explicações para as suas dúvidas profundas.
Dabrowski escolheu bem a definição desse fenômeno, essa espécie de depressão existencial. Desintegração, pois há partes que acabam se dissolvendo, crenças, padrões de pensamento, emoções, valores que não valem mais e são reformulados de outra forma. A mente se atualiza, por assim dizer, desenvolvendo e adquirindo novos potenciais ao mesmo tempo.
Daí a desintegração positiva, porque o que se consegue, no fim, é um avanço no desenvolvimento humano, ascendendo a uma outra etapa. Na verdade, este psiquiatra polonês especialista em psicologia da personalidade e capacidades intelectuais elevadas definiu até 5 etapas. Fases diferentes pelas quais uma pessoa com QI alto costuma passar.
Desintegração positiva, a evolução até a construção do eu autêntico
A teoria da desintegração positiva de Dabrowski continua em vigor desde que foi formulada há mais de seis décadas. No campo da inteligência elevada, é um valioso enquadramento a partir do qual se compreende como evolui a construção da personalidade dessas pessoas.
De acordo com essa abordagem, o desenvolvimento mental de alguém com QI alto passa por uma série de transições muito concretas. Estas vão em uma direção ascendente; ou seja, há uma evolução, um ganho tanto cognitivo quanto emocional. Porém, e aí vem o fato curioso, cada avanço parte de uma crise, de um momento em que aquela criança, aquele adolescente ou adulto experimenta muito sofrimento, confusão, ansiedade e frustração.
Esses estados quase sempre partem de dúvidas existenciais. Aquelas em que essas pessoas se questionam por se sentirem diferentes dos outros. São momentos em que elas caem em estados de introspecção para entender por que o mundo é como é, por que as pessoas agem como agem, sobre o propósito do seu futuro, na consciência da sua mortalidade, etc.
Mendaglio e Tillier (2006) analisaram o tema em seu trabalho A Teoria da Desintegração Positiva e Superdotação de Dabrowski. Algo que eles descobriram nas suas pesquisas é que, em média, pessoas com altas capacidades também experimentam uma grande superexcitação. Ou seja, elas têm uma imaginação fértil, uma tendência a sentir as emoções com mais intensidade, e geralmente são mais impulsivas.
Tudo isso torna esses períodos de crise existencial mais problemáticos; eles exigem um tipo de intervenção e apoio para essas pessoas superarem o problema e saírem do mesmo fortalecidas.
O mais comum é que, nesses momentos, elas deixem de ser produtivas nas aulas ou no trabalho e sofram problemas nas suas relações sociais. A seguir, vamos conhecer melhor os estágios de desenvolvimento definidos por Dabrowski.
1. Desintegração primária
Este primeiro nível de desenvolvimento está localizado na primeira infância. Aqui, a criança com altas habilidades sofre a primeira crise, aquela em que instintos e comportamentos egocêntricos se misturam com o interesse do que está no seu contexto imediato.
O desejo de explorar, descobrir, manipular e aprender vai amadurecer gradualmente mais cedo.
2. Desintegração mononível
Nesta fase, a criança ou pré-adolescente precisa se sentir aceita no seu grupo de colegas. No entanto, a pessoa não consegue essa conexão e ocorre a primeira grande crise existencial.
A isso se soma, ainda, a necessidade de analisar os valores sociais em que está crescendo e que impactam a sua vida. Ela se pergunta sobre o comportamento das pessoas, sobre as normas que governam a sociedade e sobre o seu papel naquele ambiente.
3. Desintegração multinível espontânea
A desintegração positiva também ocorre quando a pessoa se sente repentinamente insatisfeita com o que é e com o que conquistou até aquele ponto.
Essa crise costuma surgir no início da juventude, quando ela é forçada a reformular metas, a deixar para trás certos projetos e ideias. Ela entra em conflito consigo mesma, mas logo consegue contornar a situação ao encontrar novas soluções.
4. Desintegração multinível organizada
O quarto estágio no desenvolvimento pessoal daquela pessoa com alto QI ocorre quando ela percebe que, talvez, tenha passado muito tempo focada em si mesma e nas suas necessidades. Talvez seja o momento de se abrir para os outros, de ser mais altruísta e assumir um papel mais produtivo para o bem dos outros. É o momento em que valores mais universais e elevados são assumidos.
5. Integração secundária
Responsabilidade, gentileza, altruísmo… Neste último estágio, a pessoa começa a olhar para princípios mais abstratos e mais elevados. Ela já se concentrou em ajudar os outros, em contribuir com seu trabalho ou esforço para ser útil. Agora, ela aspira deixar a sua marca na cultura, para promover o progresso da sua sociedade.
Para concluir, há algo importante sobre a desintegração positiva. Este modelo contém uma perspectiva um tanto esperançosa e, às vezes, até pouco realista. Nem todas as pessoas conseguem “avançar” nessas etapas. Não é algo automático. Muitos ficam presos, atolados em crises que levam à ansiedade ou à depressão.
É prioritário, portanto, que elas tenham suporte profissional nos momentos de dúvidas e crises pessoais. Só então elas serão capazes de alcançar o bem-estar.