Para se chegar a uma resposta Leonardo Bezerra observa e refleti sobre as personalidades autoritárias e massificadas/alienadas presentes no clássico filme the Wave,

Trecho do artigo “A PROSCRIÇÃO DA AÇÃO REFLEXIVA DOS SUJEITOS: o experimentalismo didático no filme “A onda”, de Leonardo Mendes Bezerra / Periferia, v. 11, n. 4, p. 199-224, set./dez. 2019 / disponível em https://www.e-publicacoes.uerj.br/index.php/periferia/article/download/42175/31686

O filme “A Onda” aborda o contexto de um sistema capitalista fragilizado pelas crises econômicas e de uma juventude descrente com o futuro. Como não encontra um ideal para lutar, entrega-se ao uso de álcool e outras drogas. É nessa conjuntura que Rainer Wenger, professor de história em uma escola secundária alemã, tem como meta trabalhar o tema autocracia, mesmo não tendo afinidade com o conteúdo e possuindo uma tendência comportamental de anarquista.

Trailer do filme “A Onda” –
“Die Welle” (Original) – dirigido por Dennis Gansel – Fonte: Movieplayer.It. (2008)

De antemão, o professor demostra dificuldades em explicar aos alunos como o povo alemão acatou a disseminação do nazismo. Quando um aluno afirma ser impossível um regime político autoritário funcionar eficazmente, professor decide realizar uma experiência, baseada em alguns parâmetros praticados nos governos autoritários, para persuadir a população e para testar a eficiência das práticas junto aos alunos, sem que estes saibam sobre este objetivo.

A Onda - 13 de Março de 2008 | Filmow
figura 1: Cartaz do Filme “A Onda”- Fonte: Movieplayer.It. (2008)

Empolgados com essa ideia, os estudantes aceitaram participar das aulas, com exceção de alguns. Para manter a ordem e a disciplina, o professor impõe que todos devem chamá-lo ‘Sr. Wenger’ e também “[…] que só podem falar em pé e em postura ereta, após pedirem a palavra […] Ao fim do primeiro dia, indica que uma das bases da ditadura é “o poder pela disciplina” (LINARD,2017, p. 200).

O professor mostra, ainda, que a experiência totalitária é entendida por meio do princípio da eficiência. Os alemães, por exemplo, foram concordando com o regime nazista à proporção que as ações do governo iam conseguindo resolver as demandas sociais e econômicas. Da mesma forma, os alunos começaram a perceber a “figura modelo” do professor, sobretudo porque cotidiano envolto de coesão e cooperação proporcionava vantagens na vida escolar dos discentes.

No segundo dia do experimento, os alunos propõe um nome para o grupo e a escolha de um uniforme para a turma, conforme se apresenta na figura 2.

Filme A Onda (Die Welle): resumo e explicação - Cultura Genial
figura 2: Fonte: Movieplayer.It. (2008)

Em sequencia, o professor admira-se com a facilidade com que os alunos se deixaram subordinar e muitos alunos se sentem unidade quando são estimulados a marcharem e a obedecerem ordens

“esquerda!, direita!, esquerda!, direita! Sentem isso? Como todos nós ficamos juntos?! É o Poder da Comunidade!”

(A ONDA, 2008, 00:27:00 min. apud LINARD, 2017, p. 202).

Com essa sensação de unidade imposta pela marcha, o professor diz:

“Sob nós estão curso de Anarquia do Weiland! E quero que [com a vibração da marcha] o plástico do teto caia sobre nosso inimigo!”

(A ONDA, 2008, 00:28:40 min. apudL INARD, 2017, p. 2002).

As alunas Karo e Mona não concordam com as aulas e com os métodos didáticos utilizados, não aderem ao uso do uniforme e não se deixaram alienar pelas aulas. Pelo contrário, cônscias do processo de manipulação comportamental e esvaziamento do pensamento reflexivo e crítico, sentiram-se desconfortáveis.

Foi criado um nome para o movimento, escolhido por votação: “A onda”, um símbolo (logo) e um site, entre outros. A forma de organização discente passou a defender a integração e a defesa do grupo a qualquer custo, incluindo as intimidações de grupos opostos. Essa organização se expandiu e o movimento passou a atuar por toda a cidade. Os gestos e o símbolo representam a forma como eles imprimiam suas manifestações.

No entanto, as ações de “A onda” tomaram proporções inesperadas, extrapolando os limites sociais da escola para o ambiente externo. Ciente do descontrole operado, o professor reuniu todo o grupo e esclareceu que a autocracia é nefanda e manipuladora, além disso, já era o momento para encerrar o grupo. Um aluno que sofria bullying não aceitou a ideia de término do grupo. Acreditando que seria excluído da comunidade escolar, saca uma arma e atira em um dos colegas. Não satisfeito, o aluno se suicida com um tiro na boca. Percebe-se que esse suicídio representa o desencantamento pela destruição dos valores construídos sobre frágeis e fantasiosas estruturas da ideologia do grupo “A onda”.

As cenas derradeiras são fantásticas, lembram as manifestações nazistas, em clima de histeria da massa, com a presença do professor no auditório. Ele lê textos produzidos pelos próprios alunos a respeito do movimento e afirma que “A onda” pode tudo, inclusive mudar o percurso da história. De repente, o professor para, surpreende a todos no auditório e vocifera que “A onda” acabou, porque fora para além dos limites, ao recriar o fascismo. Arrependido, pede desculpas. Porém, já era muito tarde, e o movimento havia perdido os limites e o controle. Muitos alunos se sentiram frustrados e entristecidos.

O experimento do professor funcionou em termos de ensinar a teoria por meio da vivência, mas também falhou por ele ter perdido o controle e ter impulsionado a morte do aluno. Por fim, o professor é detido e o seu olhar enigmático para o léu ficou impresso na última cena do filme.

Posicionamento composto por elementos psicológicos e emotivos

No início do enredo, o professor Wenger aparenta ser um sujeito liberal. Dotado de forte personalidade com tendências anarquistas, de estilo descontraído, divertido, ele surge na cena inicial a caminho da escola onde trabalha, conduzindo seu automóvel ao som da música de uma banda de rock. Outros sinais são apontados por Bonneau (2015, p.20) “Wenger usa calças jeans, tênis, boné, jaqueta de couro, camisetas pretas com slogans de bandas de rocke punk como The Ramones e The Clash.

A forma de Wenger vestir-se contrasta com os colegas de profissão, mas não com seus alunos adolescentes. “Ao chegar à escola, Wenger se viu inserido em um projeto fundamentado na pedagogia tradicional de ensino, mormente quando passa a lecionar o tema “Autocracia” no lugar de “Anarquia”. Com efeito, o roteiro do filme apresentou as insatisfações e frustrações cotidianos dos discentes, entre elas: problemas de relacionamentos familiares, amores não correspondidos e/ou fracassados, além de problemas financeiros (LINARD, 2017).

Diante das dificuldades para ministrar o conteúdo sobre “Autocracia”, o professor coloca em prática o seu experimento sobre o assunto. Ao retornarem do recreio, os alunos percebem a disposição das carteiras de modo diferente do comum, estavam enfileiradas e o professor passa a utilizar uma linguagem rígida e persuasiva. Dito de outro modo, as condutas de Wenger influenciam e conquistam os estudantes pela simpatia e pelas emoções. Isso implica em destacar que o que atraiu os alunos foi a ideia de bem comum, o professor “[…] utilizou da estratégia para persuadir os jovens e levá-los a mudanças de comportamento”(ROSA, 2016, p. 3).

Analogicamente, percebem-se aproximações entre as estratégias didáticas do professor e os métodos de Adolf Hitler. Na unidade indenitária da massa, surgem dois elementos significantes, os símbolos e as saudações (nas figura 3 e 4)

A Onda - Análise de uma história real que nos ensina muito | Cena de filme,  Filmes, Ondas
figura 3: símbolo criada para significar o grupo – Fonte: Movieplayer.It. (2008)
A Onda | Passa Palavra
figura 4: Saudação criada para significar o grupo – Fonte: Movieplayer.It. (2008)

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