Por: Kennedy Alecrim / Redação
A liberdade é um valor essencial para os produtores rurais. Muitos escolhem permanecer fora de cooperativas ou contratos de integração justamente para preservar sua autonomia. No entanto, a psicologia social mostra que a liberdade total pode se transformar em peso psicológico. Esse fenômeno é conhecido como Paradoxo da Liberdade, descrito por Erich Fromm em sua obra clássica Escape from Freedom (1941).

O que é o Paradoxo da Liberdade
Segundo Fromm, a liberdade não traz apenas autonomia, mas também angústia e insegurança, já que a responsabilidade pelas escolhas recai inteiramente sobre o indivíduo. A ausência de estruturas de apoio pode levar ao isolamento, ao medo de errar e, em última instância, ao sofrimento psicológico.
O Paradoxo no contexto rural
No meio rural, o paradoxo aparece principalmente entre produtores não cooperados:
Eles decidem sozinhos quais culturas plantar, como financiar sua safra e para quem vender.
Têm autonomia máxima, mas enfrentam também a solidão decisória e a insegurança diante de mercados voláteis.
Diferente dos cooperados, que contam com rede de suporte, e dos integrados, que seguem contratos rígidos, os não cooperados vivem no limite da responsabilidade individual.
Exemplo real
Uma reportagem da Folha de S.Paulo (2021) mostrou como pequenos agricultores familiares, fora de cooperativas, enfrentam dificuldades para negociar preços justos com atravessadores. Embora tenham a liberdade de vender para quem quiserem, relatam a sensação de estarem sempre em desvantagem, carregando sozinhos o peso de cada negociação. Esse é o paradoxo em ação: a liberdade vira fonte de vulnerabilidade.
Impactos na saúde mental
A liberdade total, quando não acompanhada de suporte social, pode gerar:
- Ansiedade por medo de errar.
- Sensação de solidão decisória.
- Maior vulnerabilidade a estresse crônico.
- Risco de depressão ocupacional em contextos de frustração repetida.
Como lidar: equilibrar autonomia e suporte
A saída não é abrir mão da liberdade, mas equilibrá-la com apoio coletivo. Algumas estratégias práticas incluem:
✅ Participar de redes informais de produtores para troca de experiências.
✅ Buscar orientação técnica e financeira de entidades locais (EMATER, sindicatos, associações).
✅ Criar critérios objetivos para decisões, reduzindo a pressão subjetiva de “sempre decidir certo”.
Assim, a liberdade deixa de ser peso e volta a ser recurso de autonomia saudável.
Conclusão
O paradoxo da liberdade mostra que estar livre não significa estar bem. No campo, essa realidade aparece com força entre os não cooperados, que vivem a autonomia como solidão. Reconhecer esse paradoxo é fundamental para criar estratégias que protejam a saúde mental e fortaleçam a resiliência dos produtores.
Referências
- Fromm, E. (1941). Escape from freedom. New York: Farrar & Rinehart.
- Folha de S.Paulo. (2021). Agricultores familiares enfrentam dificuldades para negociar preços sem apoio de cooperativas.