Por: Tatiana Pimenta – https://www.vittude.com/
Personalidade é algo que nasce com a gente ou é formada ao longo da vida? E nossos comportamentos, será que influenciam na personalidade? Ou são apenas a forma como aprendemos a viver e agir de acordo com o ambiente em que vivemos e com as pessoas com quem convivemos?
Estas são questões um pouco complexas. Elas nos levam a pensar em como relutamos na mudança de certos comportamentos em defesa da nossa personalidade.
No entanto, um pode ser tanto a causa quanto a consequência do outro. Ou seja, nossa personalidade pode ditar a maioria dos comportamentos que temos. Além disso, são esses comportamentos, muitas vezes, que nos imprimem características que formam nossa personalidade.
Portanto, ambos podem ser mudados – ou moldados – para que possamos nos adaptar ao meio, conforme ele também muda.
Dessa forma, a mudança na personalidade é algo natural dos seres humanos. Ela acontece com o passar do tempo, conforme amadurecemos e vivenciamos novas experiências.
Assim sendo, mudar certos padrões de comportamento que influem negativamente a convivência com família, amigos, colegas de trabalho e parceiros românticos pode melhorar nossa dinâmica social e nossa qualidade de vida!
O que é personalidade e como ela é formada?
Falando de modo mais abrangente, a personalidade pode ser entendida como um padrão individual de comportamentos, pensamentos, sentimentos e valores de uma pessoa, que definem a forma como os outros a descrevem e como ela mesma se vê. Em geral, essas características são perenes, ou modificadas sutilmente ao longo de muito tempo.
Ou seja, personalidade pode ser descrita como o nosso “jeito de ser”. Nossos hábitos e particularidades! O que nos distingue um dos outros, sendo organizada e constituída por características afetivas, cognitivas e também por nossas vontades.
Ao final do século XX, pesquisadores começaram a demonstrar que a personalidade de um indivíduo também é forte resultado da interação com o ambiente, e não apenas de características herdadas. Da mesma forma, o modo como encaramos episódios de nossa vida é determinado pela personalidade que se constituiu até o momento do fato.
Entre os estudos e teorias desenvolvidos, o mais aceito é o dos Cinco Grandes Fatores. Este modelo foi desenvolvido pelos americanos Robert McCrae e Paul T. Costa nos anos 1980 e, de maneira abrangente, conseguiu classificar traços da personalidade que foram reconhecidos por leigos e especialistas.
Personalidade e os elementos da teoria dos Cinco Grandes Fatores
O princípio desta teoria parte da premissa de que todos os aspectos que moldam a personalidade de um indivíduo estão concentrados e registrados na linguagem que usamos habitualmente para definir a nós mesmos ou aos outros.
Adjetivos como preguiçoso, extrovertido, calmo, bagunceiro, confiante, entre tantos outros, foram reunidos em grupos que formam os cinco grandes fatores:
- Extroversão
- Neuroticismo
- Abertura a experiências
- Consciência
- Afabilidade.
Cada um desses aspectos formou, assim, um conjunto de diversos traços psicológicos (positivos e negativos) que ajudam a determinar um tipo de personalidade. Confira alguns exemplos:
1. Extroversão
- Reservado x afetivo
- Insensível x passional
- Quieto x falante
- Tímido x sociável
- Discreto x alegre
2. Neuroticismo
- Tranquilo x tenso
- Seguro x inseguro
- Satisfeito x autopiedoso
- Constante x instável
- Racional x emocional
3. Abertura
- Conservador x liberal
- Realista x imaginativo
- Rotina x variedade
- Convencional x original
- Pouco curioso x curioso
4. Afabilidade
- Cruel x piedoso
- Rude x cortês
- Duvidoso x confiável
- Crítico x tolerante
- Mesquinho x generoso
5. Consciência
- Preguiçoso x trabalhador
- Negligente x responsável
- Acomodado x ambicioso
- Bagunceiro x organizado
- Atrasado x pontual
Personalidade é algo singular
Analisando todos esses aspectos, podemos concluir que a personalidade é algo puramente singular, embora algumas pessoas apresentem características bastante semelhantes que formam personalidades muito parecidas.
Todavia, cada indivíduo possui traços únicos em graus variados, adquirindo uma dinâmica própria e formando uma “mistura” que dá origem a determinados comportamentos característicos e repetitivos.
No entanto, não são raras as vezes que julgamos alguém de maneira precipitada e em razão de determinado comportamento. Isso ocorre porque, algumas vezes, certas atitudes isoladas criam uma personalidade pré-determinada, mas que diverge da realidade sobre aquela pessoa.
Ao mesmo tempo, reforçamos o entendimento que há em torno de que a personalidade é a impulsionadora de tais comportamentos, e não o contrário.
Padrões de comportamento nocivos e limitantes
Quem nunca se deparou com a prática de um comportamento que acabou gerando desconforto e problemas? E mesmo que, racionalmente, não concordemos com tais atitudes, muitas vezes acabamos agindo e nos comportando de forma equivocada e nociva.
Crises de ciúme infundadas, procrastinação, querer controlar tudo e todos, comer e beber em excesso, comprar sem necessidade… a lista é enorme! E nem que seja com apenas um deles, todos agimos de maneira nociva, seja a nós mesmos ou aos que estão próximos.
E por que isso acontece? Porque a maioria dos nossos comportamentos são determinados pelo inconsciente. Pode parecer estranho diante do fato de que somos seres racionais, mas quase sempre vivemos no “piloto automático” do inconsciente. E é nesse lugar, o inconsciente, que moram nossas emoções, sentimentos e até mesmo algumas crenças.
Por falar em crença, muito se tem ouvido sobre as crenças limitantes. E quase sempre são essas crenças, acompanhadas de sentimentos negativos, os principais geradores de comportamentos nocivos.
Personalidade vs. crenças limitantes
Podemos chamar de crenças as convicções e opiniões que resultam da forma como interpretamos as nossas experiências ao longo da vida. À partir do momento que adotamos um certo padrão de ideia e comportamento sobre determinada situação, temos formada uma crença.
Ou seja, padrões que tomamos como verdade, mas que podem ou não ser verdadeiros. Ao menos não totalmente. Mas que nos fazem crer em algo maior, em resultados benéficos, se essa crença for positiva, ou podem atrapalhar nossa vida, caso se trata de uma crença limitante.
Vejamos alguns exemplos de afirmações que geram as crenças limitantes:
- falar sempre que não tem tempo para nada;
- afirmar que não leva jeito para certas coisas;
- dizer que não consegue se organizar;
- acreditar que não é bom o suficiente no trabalho;
- achar que as coisas estão difíceis porque o mundo está em crise;
- ter mania de perfeição;
- achar que não merece sucesso e recompensa;
- acreditar que não tem mais idade para fazer o que tem vontade;
- ter a ideia de que são os outros que precisam mudar.
- achar que as coisas ruins acontecem por obra do destino e porque “sempre foi assim na família”.
Porque influenciam nosso comportamento?
A partir da formação das crenças, acabamos determinando nossas atitudes, ainda que de maneira inconsciente, como já falamos. Dessa forma, não se pode dizer que são os fatores externos os responsáveis pelo que acontece na nossa vida, ao menos não 100% das vezes.
Assim, para mudar comportamentos nocivos, é preciso antes de tudo abandonar as crenças limitantes. É uma mudança interna: primeiro mudamos o pensamento, depois as ações.
No entanto, sabemos o quanto é difícil realizar essa mudança, ao passo que, quase sempre, desconhecemos nossas crenças e ignoramos nossos comportamentos nocivos, porque agimos “no piloto automático” do inconsciente.
Nessa hora, é fundamental procurar ajuda especializada, e nada melhor do que a psicoterapia para clarear nossa mente em busca de identificar os padrões que geram maus comportamentos.
Mudar, sim! Por que não?
É possível mudar certos padrões de comportamento sem afetar a personalidade? Esse é um questionamento muito comum, afinal, muita gente gosta de ser quem é – embora concorde que precisa melhorar em algo, modificar certas atitudes aqui e ali – e se sente mal com a ideia de que sua personalidade pode ser afetada, ainda que de forma sutil.
Por isso, mesmo que já tenha ficado claro ao longo do texto que a personalidade é algo naturalmente mutável, é necessário abrir um pouco mais a mente para nossas questões comportamentais, sem se ater tanto a “continuar sendo quem se é”.
Entenda: uma pessoa jamais será alguém “sem personalidade” por decidir mudar suas atitudes e rever seus conceitos, principalmente se eles afetam suas relações e seu bem-estar.
Mudando os padrões
O primeiro passo a ser dado para quem já identificou a necessidade de mudar padrões de comportamento é saber quais crenças limitantes estão influenciando nessas atitudes.
Nesse momento, buscar o autoconhecimento é essencial, e para isso nada melhor do que fazer terapia. No entanto, com uma certa dose de disciplina e determinação é possível corrigir um comportamento nocivo a partir de práticas simples.
1. Depois de analisar qual comportamento precisa ser mudado e entender porque se está agindo dessa forma, é hora de definir quais objetivos e resultados se deseja com a mudança. Faça uma anotação com os benefícios que essa mudança trará para sua vida, a fim de visualizar e aumentar sua consciência sobre isso.
2. Use a criatividade e busque alternativas de comportamento que se oponham ao que está sendo feito de errado, e que levem aos resultados pretendidos.
3. Treine sua mente para agir de acordo com seus reais desejos e necessidades, encontrando novas estratégias para fugir do antigo padrão.
A partir da tomada de decisão sobre a mudança, tudo se tornará mais natural e esse processo será facilitado!