Por: Beatriz Calais / Forbes Brasil
“Eu andei de skate todos os dias, dos meus 12 anos até a fase adulta”, conta João Neto, empresário e presidente da holding J&A. Muito antes de saber que seu caminho profissional seria o empreendedorismo, ele sonhava em ser skatista. Aos 18 anos, com € 400 no bolso, viajou para Portugal para tentar se profissionalizar na Europa. “Minha família é simples, e eu fui com pouco dinheiro. Obviamente, gastei tudo em quatro meses.”
Em 2005, sem renda para se manter em Lisboa, arrumou emprego como vendedor na Portugal Telecom. “Na época, eu tinha vergonha de vender. Tive que perder essa timidez ao bater na porta de possíveis clientes para oferecer produtos”, relembra o empreendedor, que teve o primeiro insight sobre sua carreira em uma premiação da empresa para os melhores vendedores. “Os prêmios chegavam a € 2.000, além das comissões. Isso marcou muito a minha vida. Até então, minha família sempre tinha falado que segurança profissional era fazer concurso público. Descobri que eu podia ter um caminho diferente”. A partir desse dia, começou a se dedicar inteiramente ao trabalho, afastando-se do skate.PUBLICIDADE
“No segundo mês, já recebi o prêmio de destaque da companhia e fui promovido a chefe de equipe”, destaca Neto. Responsável pelo comando de outros vendedores, cresceu dentro da companhia durante um ano e meio, até decidir migrar para a concorrência e continuar se sobressaindo no setor. O esforço foi reconhecido em pouco tempo, quando a primeira porta para o empreendedorismo se abriu. “O diretor da Portugal Telecom perguntou se eu não queria me tornar correspondente da empresa, prestando um serviço terceirizado. Eu aceitei o desafio, montei meu próprio negócio mas, diferente do que planejei, as coisas começaram a desandar.”
Sem experiência, ele começou a passar por dificuldades financeiras. “Eu tinha talento para motivar as pessoas e vender, mas pecava na gestão. Não entendia a parte operacional e não me cerquei de pessoas que podiam me ajudar”, explica. Após oito meses de tentativa, já falido, acabou desistindo e voltando para o Brasil, mais especificamente, para sua cidade natal, Florianópolis. “Voltei com R$ 3.000 e o sonho de um dia ser empresário.”
Falência em dose dupla
Quando chegou ao Brasil, Neto tentou – sem sucesso – continuar na área de telecomunicações. “No cenário nacional, tudo é diferente: as comissões e as condições de trabalho, por exemplo. Desanimei e vi que não conseguiria construir um futuro no setor.” Sem ideia do que fazer, se juntou a dois amigos que organizavam eventos na cidade. “Coloquei na cabeça deles a ideia de montarmos uma empresa de entretenimento. Curiosamente, eles toparam”, conta com humor.
Nos primeiros meses, o negócio fluiu, com cerca de cinco eventos por semana e três bandas locais para empresariar. “Estava dando certo, mas é um setor de muitos altos e baixos”, revela. Em certo ponto, a montanha russa de emoções dos empresários não via mais subidas, apenas declínios. “Começamos a nos endividar. Cheguei a ter cobradores batendo na porta da casa dos meus pais me procurando. Minha família já estava desesperada comigo, principalmente meu pai, que nunca teve o nome sujo.”
Seja pelas preces de seus familiares ou por uma coincidência do destino, Neto recebeu uma ligação que o tirou dos trilhos dos eventos. “Um colega que andava de skate comigo na juventude comandava uma empresa de crédito consignado e me chamou para organizar um evento de final de ano para ele. Quando fomos conversar, percebi que a área em que ele estava atuando tinha muito potencial. Era o caminho que eu precisava seguir”. Uma semana depois, já havia abandonado o entretenimento e virado parceiro de negócios da Fontes, correspondente bancária fundada pelo seu amigo Arthur Oliveira.
“Eu prestava serviço fazendo B2C – o famoso business-to-consumer – para a empresa. Em três meses, virei o principal parceiro de negócios por me destacar nas vendas”, relembra. Após um ano como prestador de serviços, foi chamado para se tornar sócio da Fontes. “Juntamos meu conhecimento de vendas com o caixa e a estrutura deles”, destaca Neto, que em seis meses conseguiu quitar suas dívidas do negócio anterior, acumuladas em quase R$ 150 mil.
O susto da terceira vez
Pela terceira vez em cerca de sete anos, Neto tentou a vida de empreendedor. Após duas falências e muitas dívidas, conseguiu o que almejava: com 25 anos, conquistou seu primeiro milhão e um caminho profissional estável. “Na minha cabeça, para ter sucesso era preciso ser de uma família rica, ter muita sorte ou ser um gênio”, diz entre risadas.
Depois da crise de 2008, a companhia passou por um intenso movimento de expansão, alcançando um crescimento de mais de 140.000% em dez anos. Em 2018, o empresário organizou a criação da holding J&A, um conglomerado multissetores que conta com 14 empresas – entre elas a própria Fontes – e mais de R$ 20 bilhões de ativos em movimento.
Como presidente da J&A e Chief Sales Officer (CSO) da Fontes, Neto acabou relaxando e se afastando da gestão durante alguns anos, o que revela ter atrasado o crescimento da empresa. “Estava bem financeiramente e comecei a me afastar da gestão para curtir a vida e viajar. Em maio do ano passado, tive de voltar porque percebi que os concorrentes começaram a crescer em um ritmo muito mais acelerado. Perdemos muito nesse tempo”, confessa o empresário. “Pedi um voto de confiança para meus colaboradores e comecei a trabalhar em ritmo acelerado novamente.”
Embora tenha sido apenas um susto, o empreendedor diz ter aprendido muito com a queda da empresa enquanto estava fora. Em busca de recuperar os meses perdidos, trabalhou dia e noite e conseguiu um faturamento de R$ 1,1 bilhão em 2020, aumento de quase 40% em relação a 2019. “A J&A tem, atualmente, cerca de mil colaboradores em 26 estados do Brasil, além de uma equipe nos Estados Unidos.”
Aos 37 anos, com três gestões distintas em seu currículo, Neto sabe bem o que é passar por dificuldades e falências. Por isso, pedimos ao empresário cinco dicas para sobreviver a uma crise. Veja o que ele disse na galeria de imagens a seguir:
O produto precisa ter aderência
“Eu gosto de trabalhar com produtos que eu compraria”, revela o empreendedor. Para ele, acreditar na sua prestação de serviços é essencial para continuar no mercado mesmo com todas as dificuldades. “Quando você percebe que as coisas não estão indo no caminho certo, mas o produto tem aderência, você arruma fôlego para seguir em frente.” No seu caso, com as empresas que faliram, as ideias faziam parte de um desejo de se tornar empreendedor, não efetivamente de uma crença no que estava oferecendo, o que impactou negativamente no sucesso dos negócios.
João Neto
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