Por: Kennedy Alecrim/ Redação
A vida no campo mudou muito nas últimas décadas. Se antes o produtor rural tinha poucas alternativas de crédito, insumos ou canais de venda, hoje a realidade é oposta: há uma verdadeira enxurrada de possibilidades. À primeira vista, isso parece positivo, mas a psicologia mostra que o excesso de opções pode trazer angústia, arrependimento e até paralisia. Essa contradição é conhecida como Paradoxo da Escolha, conceito desenvolvido pelo psicólogo Barry Schwartz em 2004.

O que é o Paradoxo da Escolha
Segundo Schwartz, ter muitas opções não aumenta necessariamente a liberdade. Pelo contrário: o excesso de alternativas gera sobrecarga cognitiva, aumenta a chance de arrependimento pós-escolha e alimenta o sentimento de que “sempre havia algo melhor” que ficou de fora. Esse mecanismo psicológico pode levar à ansiedade e reduzir o bem-estar subjetivo (Schwartz, 2004; Schwartz et al., 2002).
O Paradoxo no contexto rural
No campo brasileiro, o paradoxo aparece de forma clara. O produtor rural precisa decidir:
- Qual linha de crédito escolher?
- Qual variedade de sementes plantar?
- Qual cooperativa ou comprador atender?
- Qual tecnologia investir primeiro?
Essas decisões, que envolvem alto risco econômico, se tornam ainda mais difíceis diante da multiplicidade de opções. Enquanto não cooperados sofrem com a solidão decisória, os cooperados enfrentam a sobrecarga quando a própria cooperativa amplia o cardápio de alternativas sem oferecer orientação clara.
Exemplo real
Uma reportagem do Globo Rural (2022) mostrou como a grande oferta de linhas de financiamento agrícola pode confundir produtores de médio porte. Muitos relataram dificuldade em compreender as diferenças entre programas do Pronaf, Pronamp e linhas privadas, resultando em atrasos ou decisões que depois geraram arrependimento financeiro. Essa realidade ilustra exatamente o paradoxo descrito por Schwartz: mais opções nem sempre significam melhores resultados.
Impactos na saúde mental
O paradoxo da escolha, quando vivido repetidamente em decisões críticas, gera:
- Ansiedade antecipatória (“E se eu escolher errado?”).
- Ruminação (pensar excessivamente nas alternativas descartadas).
- Autoculpa (atribuir fracassos à própria decisão).
- Risco de depressão ocupacional, quando a sensação de erro se acumula ao longo das safras.
- Como lidar: a estratégia do “bom o suficiente”
Uma das formas de enfrentar o paradoxo é adotar a estratégia do “bom o suficiente” (satisficing). Em vez de buscar a opção perfeita, o produtor define critérios mínimos aceitáveis (por exemplo: juros abaixo de 1% ao mês, prazo compatível com a colheita e assistência técnica incluída).
Quando uma opção atende a esses critérios, a decisão é feita — e a ruminação diminui.
Essa prática reduz a ansiedade, protege a saúde mental e permite que o produtor direcione sua energia para o que importa: a produção e a vida fora do trabalho.
Conclusão
O paradoxo da escolha mostra que mais opções nem sempre significam mais liberdade. No campo, essa realidade se traduz em sobrecarga, ansiedade e sofrimento ocupacional. Reconhecer esse mecanismo é o primeiro passo para proteger a saúde mental dos produtores e promover um equilíbrio entre liberdade de decisão e clareza de critérios.
Referências
- Schwartz, B. (2004). The paradox of choice: Why more is less. New York: HarperCollins
- Schwartz, B., Ward, A., Monterosso, J., Lyubomirsky, S., White, K., & Lehman, D. R. (2002). Maximizing versus satisficing: Happiness is a matter of choice. Journal of Personality and Social Psychology, 83(5), 1178–1197
- Globo Rural. (2022). Produtores rurais relatam dificuldade em escolher linhas de crédito agrícola.