Por G1
Quando Jeff Bezos deixar o cargo de presidente-executivo da Amazon até o fim de setembro, um nome pouco conhecido do noticiário assumirá a posição: Andy Jassy.
Enquanto Bezos conquistou fama não só pelo sucesso à frente da empresa que fundou, mas também por ter se tornado o homem mais rico do mundo, Jassy já tinha papel fundamental na gigante da tecnologia, mesmo sendo pouco visto na mídia.
Ele é quem comanda desde o início o Amazon Web Services (AWS), a importante divisão de serviços de armazenamento e processamento de dados da empresa que gera mais lucro que a loja.
Aos 53 anos, era o favorito para suceder Bezos, um dia. Conheça mais sobre sua trajetória abaixo.
Início na Amazon
Andy Jassy entrou para a Amazon há 24 anos, em 1997, pouco depois de concluir seu MBA na Harvard Business School, uma das principais universidades de negócios do mundo.
Ele foi para o departamento de marketing da companhia e, segundo o jornal “Financial Times”, se interessou pela ambição da Amazon de se tornar mais do que uma loja de livros. A empresa tinha sido fundada em 1994.
Jassy participou da expansão dos negócios da Amazon: em 2001, era o diretor de produto para música, planejando e promovendo vendas de CDs pela internet.
Concepção da AWS
A ideia para a Amazon Web Services (AWS) surgiu em uma reunião informal na casa de Bezos, em 2003.
Foi o primeiro ano em que a Amazon deu lucro e a conversa buscava identificar quais eram os pontos fortes da companhia. A discussão girou em torno da capacidade de oferecer tecnologia de infraestrutura que os engenheiros da empresa tinham criado.
Jassy esteve envolvido com a AWS desde o primeiro momento. Ele via a ideia como uma maneira de resolver problemas dos engenheiros de software da Amazon, que passavam muito tempo lidando com questões sobre a infraestrutura de computação para cada novo projeto.
‘Concorrência’ diminuiu
O AWS foi lançado oficialmente em 2006, tendo Jassy como líder. Em 2016, Bezos o nomeou como CEO da divisão – somente Jassy e outro funcionário da Amazon, Jeff Wilke, que comanda a área de vendas ao consumidor, a mais conhecida da empresa, tinham esse tipo de cargo.
Wilke anunciou no ano passado que se aposentaria em 2021, aos 53 anos, aumentando a visão de que caberia a Jassy suceder Bezos quando ele quisesse deixar o comando executivo da companhia.
Primeiros passos na nuvem
Quando a AWS começou a funcionar, ainda não era claro que a ideia seria um sucesso total.
Qualquer programador com uma conta da Amazon poderia alugar processamento computacional conforme a demanda.
Jassy focou em oferecer o armazenamento em nuvem e capacidade computacional primeiro para pequenas empresas e times de desenvolvedores.
Conforme esses negócios cresceram, continuaram usando os serviços da Amazon, em vez de investir em infraestruturas próprias de datacenter.
Hoje grandes empresas, como Netflix, Airbnb e até a Coca-Cola utilizam os serviços da AWS.
Líder nesse mercado, a Amazon controla 33% da infraestrutura de nuvem ao redor do mundo, de acordo com uma pesquisa de meados de 2020 da Synergy Research. A companhia é seguida pela Microsoft, com 18% do mercado, e pelo Google, que tem 9% de participação.
Sucesso da AWS
Sob a liderança de Jassy, a AWS se tornou o segmento de hospedagem mais lucrativo da companhia.
No balancete divulgado na última terça-feira (2), a receita da AWS no 4º trimestre de 2020 cresceu 28% em relação ao mesmo período do ano anterior, chegando a US$ 12,7 bilhões (cerca de R$ 67,7 bilhões).
O lucro da divisão cresceu 37%, chegando a US$ 3,56 bilhões (R$ 19 bilhões), o que representa 52% do lucro operacional da Amazon no 4º trimestre de 2020.
Considerando todo o ano de 2020, a AWS representou 63% do lucro de US$ 21 bilhões (R$ 112 bilhões) da companhia. Em valores absolutos, foram US$ 13,5 bilhões (R$ 72,3 bilhões) de lucro vindos da divisão de nuvem.
Perfil criativo
O novo CEO da Amazon é conhecido pelo incentivo à criatividade. Ao jornal “Financial Times”, ele disse que uma de suas funções é se manter aberto a ideias como as que permitiram que a companhia abraçasse a criação da AWS.
Na carta enviada nesta quarta (3) ao mercado financeiro, Bezos aconselhou o sucessor: “Continue inventando e não se desespere quando a princípio a ideia parecer maluca. Deixe a curiosidade ser sua bússola”.
Opiniões pessoais
O executivo costuma participar da conferência Re:Invent, um evento que a Amazon realiza todos os anos para apresentar novidades nos seus serviços em nuvem. Apesar disso, as aparições de Andy Jassy na mídia são raras.
O executivo usou, em algumas ocasiões, a sua conta do Twitter para expressar opiniões sobre temas sociais.
Em setembro passado, ele disse que os EUA não poderiam deixar que “a morte de Breonna Taylor ficasse sem responsabilização”, se referindo à mulher negra morta por policiais em março de 2020 e que incentivou protestos ao redor do mundo contra o racismo.
1/6 Can't let Breonna Taylor death go with no accountability. We still don't get it in the US. If you don't hold police depts accountable for murdering black people, we will never have justice and change, or be the country we aspire (and claim) to be.
— Andy Jassy (@ajassy) September 24, 2020
Na rede social, ele também elogiou a decisão da Califórnia de encerrar o uso de prisões privadas em 2019 e a decisão da Suprema Corte dos EUA em 2020 de impedir a deportação de cerca de 650 mil imigrantes que chegaram ao país quando eram crianças.
Em um documentário da rede americana PBS, Jassy disse que era contra proibir o uso de sistemas de reconhecimento facial por forças policiais.
“Vamos ver se eles abusam da tecnologia de alguma forma. Presumir que eles vão fazer isso e, portanto, não permitir que eles tenham acesso parece o equilíbrio certo para mim”, afirmou.
O executivo disse ainda que venderia o sistema de reconhecimento facial da Amazon para governos de outros países, caso isso fosse permitido pela lei.
O uso dessas tecnologias por forças policiais gera debate ao redor do mundo, por preocupações com privacidade e com a precisão desse tipo de tecnologia.
Em junho passado, após o assassinato de George Floyd na cidade de Minneapolis, a empresa de tecnologia IBM anunciou que não iria mais desenvolver e pesquisar tecnologias de reconhecimento facial, alegando riscos de privacidade e possíveis injustiças caso a tecnologia fosse usada por forças policiais.
Pouco depois, a Amazon anunciou uma moratória de um ano para o uso da sua plataforma chamada “Rekognition”, mas disse planejar voltar a vendê-la após regulamentações do setor nos EUA.
Tensões com o governo dos EUA
A Amazon tem um embate com o governo dos EUA desde outubro de 2019, quando um contrato de computação em nuvem de US$ 10 bilhões de dólares do Pentágono foi vencido pela concorrente Microsoft.
Havia a expectativa que a Amazon vencesse a concorrência para o projeto Joint Enterprise Defense Infrastructure (Jedi), e a empresa está contestando a decisão, dizendo que houve interferência do ex-presidente americano, Donald Trump.
Em entrevista à BBC no evento anual da AWS, Jassy disse que a decisão é perigosa, porque a Amazon tem “a melhor plataforma de infraestrutura de tecnologia possível”.
Jassy também disse que isso cria um precedente “muito perigoso” para o governo ao não basear as decisões em “avaliações objetivas”.
Em dezembro, a Amazon voltou a pedir a um juiz dos Estados Unidos que suspenda o contrato com a Microsoft.
Dono de time de hóquei
Andy Jassy é apaixonado por esportes. O interesse rendeu a participação em um novo negócio: ele é um dos donos de um time de hóquei no gelo, o Seattle Kraken, que vai disputar a liga nacional de Hockey na temporada 2021-2022.
O estádio do time, chamado Climate Pledge Arena, é patrocinado pela Amazon – a empresa foi fundada em Seattle. O nome em tradução livre significa “compromisso com o clima” e o objetivo é ter toda a operação neutra na emissão de gases do efeito estufa.
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