Por UOL -São Paulo

Uma das principais lideranças indígenas do país, o cacique Raoni disse não dar importância às falas do presidente Jair Bolsonaro e que, mesmo em um ano difícil, segue com sua luta.

“Para mim não tem importância o que ele fala. Eu vou seguir a minha luta. Você entendeu?”, disse o líder do povo Kayapó em entrevista exibida na noite de ontem no programa “Conversa com Bial”, da TV Globo.

Em 2019, em um discurso sobre a Amazônia na ONU (Organização das Nações Unidas), Bolsonaro chegou a declarar que “acabou o monopólio de Raoni”, ao comentar a demarcação das terras indígenas no país, e que o índio foi usado por estrangeiros interessados em “avançar seus interesses na Amazônia”. Em 2020, ele voltou a questionar a liderança do cacique dizendo que “cada povo tem o seu cacique”.

Na época, o indígena rebateu as falas do presidente. “O Bolsonaro falou que não sou uma liderança. Ele que não é liderança e tem que sair”.

Este ano, ele foi um nome forte na disputa ao prêmio Nobel da Paz, o que teria incomodado o governo brasilerio. O prêmio acabou indo para o Programa Mundial de Alimentação da ONU.
Ainda na entrevista, Raoni falou das dificuldades pessoais que vivenciou em 2020. Ele perdeu a mulher e depois sofreu uma infecção intestinal. Em setembro, foi diagnosticado com covid-19 e ficou mais de uma semana internado com complicações pulmonares.

Antes, em julho, foi internado com uma anemia severa e hemorragia digestiva depois de apresentar sintomas de desidratação, úlceras gástricas e inflamação no cólon. De acordo com o instituto que leva seu nome, o cacique apresentava sintomas de depressão depois da morte da sua esposa, no final de junho. Bekwyjkà Metuktire morreu no dia 23 de junho. Ela tinha diabetes e sofreu um Acidente Vascular Cerebral (AVC).

“Eu perdi a minha esposa, mas mesmo assim decidi seguir em frente com a minha luta. Os nossos antepassados, nossas avós e avôs foram os primeiros habitantes desta terra aqui, e antes não existia esta destruição. Vocês vieram em barcos e chegaram até aqui, onde vivam os nossos antepassados, e vocês os enganaram. Mas vocês não conseguiram fechar meus olhos nem tapar meus ouvidos. Os garimpeiros, os madeireiros, os fazendeiros estão neste momento destruindo a nossa floresta, e eu não posso aceitar”, declarou.

O chefe kayapó se tornou conhecido internacionalmente ao viajar o mundo em defesa da Amazônia e se tornou um símbolo da luta contra o desmatamento na região.

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