De assassinos irlandeses a defensores da paz e do amor
Por: Cláudia Fusco / revistagalileu.globo.com
Em 24 de fevereiro, o Washington Post publicou uma reportagem, no mínimo, bastante curiosa: ao investigar a morte de Antonin Scalia, juiz da Suprema Corte americana, que falecera no meio do mês, a equipe de jornalismo descobriu algo importante: Scalia teria morrido cercado de amigos que faziam parte de uma sociedade secreta, a Ordem Internacional de St. Hubertus, que surgiu em meados dos anos 1600, na Áustria. A sociedade era composta de caçadores de elite europeus e ficou especialmente famosa quando Hitler tentou torná-la um símbolo nazista — e foi rechaçado pelo grupo. Como vingança, Hitler dissolveu a organização, que só retomou as atividades nos anos 60 — desta vez, com uma divisão americana também.
Sociedades secretas são uma realidade mesmo nos dias atuais. Sua aura de mistério fascina quem está de fora; não é à toa que ficamos tão curiosos sobre seu funcionamento. Por conta disso, o Smithsonian listou oito sociedades pouco conhecidas. Muitas delas nasceram nos séculos 18 e 19, e isso não é à toa: mais do que grupos reunidos por motivações desconhecidas (ou quase), as sociedades secretas eram espaços de discussão e debate sobre ciência, política e religião. Noah Shachtman, estudioso do assunto, escreveu para a Wired: “Não é um acidente que Voltaire, George Washington e Benjamin Franklin fossem membros ativos”.
The Improved Benevolent and Protective Order of Elks of the World
Um nome imponente para uma causa interessante: ser uma das primeiras (e “a mais estimulante”) sociedades secretas voltada apenas para afro-americanos. É considerada um centro de discussão sobre as causas negras e, em tempos de segregação racial nos EUA, era um dos poucos pontos de encontro seguros para a comunidade negra. Fundada em 1899 por dois homens cuja entrada em uma sociedade foi recusada simplesmente por sua cor de pele, a Ordem dos Elks “Melhorada, Benevolente e Protetora” existe até hoje. Mas os integrantes ainda passam por uma seleção: só permite qualquer cidadão americano que tenha mais de 21 anos e acredite em Deus. Apesar de estar passando por uma fase de baixa popularidade, a Ordem fnancia bolsas de estudo, cursos de verão e trabalho comunitário ao redor do mundo.
The Grand Orange Lodge
A “Ordem Laranja”, como é conhecida, é chamada assim por conta do príncipe William III, que também era príncipe de Orange, e foi fundada no norte da Irlanda, em um pequeno vilarejo chamado Loughgall. Seu propósito era proteger religiosos protestantes, o que naturalmente criou muita polêmica no século 19. Por conta de situações do tipo, as sociedades secretas foram banidas da Irlanda à época, mas a Ordem sobrevive até hoje, com sua premissa de espalhar a “Fé Reformada” pelo mundo.
The Independent Order of Odd Fellows
Os primeiros registros dessa sociedade de que se tem notícia datam de 1812, mas a origem dela é tão misteriosa que nem mesmo disso temos certeza; o site oficial da sociedade (moderno, não?) afirma que suas origens remontam a 1066.
O que é certeza é que a organização fazia referência a George IV. Antes de se tornar príncipe regente, George foi maçom e, num ato de camaradagem, indicou um amigo para também fazer parte da Ordem… que foi recusado. Possesso, George IV deixou a maçonaria, prometendo criar uma ordem rival e de igual importância. Se a Ordem é tão antiga quanto afirma, George possivelmente reviveu o movimento.
Independentemente da história oficial, o rei realmente conseguiu o que queria. A Ordem existe até hoje e teve membros bastante gamosos, como os primeiros-ministros Winston Churchill e Stanley Baldwin. Entre os ideais da organização, estão as bases do amor, da amizade e da verdade. Além disso, a Ordem guarda esqueletos de verdade em sua sede: segundo uma reportagem do Washington Post, estão lá para lembrar seus membros da mortalidade.
Knights of Pythias
Fundada por Justus H. Rathbone, que trabalhava no governo americano em 1864, a organização tem como fundamento a exaltação do “amor fraternal”. Nada mais justo (sem trocadilhos com o nome do fundador); afinal, a sociedade foi criada em plena Guerra Civil Americana. O nome é uma referência à lenda de Damon e Pítias, que é considerada o modelo ideal de amizade, segundo Pitágoras. Todos os membros, de alguma forma, trabalhavam para o governo americano, e suas coes são azul (símbolo da amizade), amarelo (caridade) e vermelho (benevolência). Eles ainda estão ativos e são parceiros de uma das maiores organizações de escoteiros (?) dos Estados Unidos. Uma sociedade do bem.
The Ancient Order of the Foresters
Conhecida como “Foresters Friendly Society”, a Ordem foi criada em 1834, na Inglaterra, para oferecer benefícios aos doentes da classe trabalhadora. Em 1874, o braço americano e canadense da organização fundaram ordens independentes. Nessa época, os participantes eram avaliados por médicos que estivessem “conectados ao espírito da Ordem”. A organização oferece serviços e seguros médicos para seus membros até hoje.
The Ancient Order of United Workmen
Catorze pessoas fundaram essa sociedade secreta em Meadville, na Pensilvânia, com o propósito de melhorarem as condições de vida para a classe trabalhadora. Ofereciam benefícios e proteções para seus membros. Quando um membro morria, todos os participantes da ordem deveriam doar um dólar cada para a família do falecido, com limite de até 2 mil dólares, uma boa grana na época. A Ordem deixou de existir, mas seu legado passou a diante, uma vez que seus cuidados com os membros inspiraram outras sociedades a cuidarem melhor de seus participantes.
The Patriotic Order Sons of America
Segundo o site da organização, a Patriotic Order existe desde os primeiros dias da República Americana. Era considerada “uma das organizações mais influentes, populares e progressistas” dos Estados Unidos, no início do século XX, embora isso seja um tanto quanto questionável, já que uma das maiores polêmicas da sociedade, em 1891, era a retirada da palavra “branco” de sua constituição, de forma que permitisse que homens negros pudessem participar do grupo também. Atualmente, a ordem abre seu cadastro para membros de forma (um pouco) mais neutra: é preciso ser cidadão americano (nascido ou naturalizado), com mais de 16 anos, “que acredita em seu país e suas instituições, que pretende perpetuar um governo livre, que possa encorajar um sentimento de irmandade entre americanos” e… que seja homem.
The Molly Maguires
Nos anos 1870, 24 trabalhadores e supervisores das minas de carvão americanas foram assassinados. Os culpados? Membros da sociedade The Molly Maguires, de origens irlandesas, que se vestiam de mulheres como disfarce para seus atos ilícitos. O grupo foi dissolvido após meses de investigação da famosa agência de detetives Pinkerton, que fora contratada pelos donos das minas para investigar o grupo de perto. O final da sociedade não foi muito feliz: vinte participantes foram condenados à forca.
Veja as promoções que separamos para você?
Veja Também:
- Domínio dos Talheres: Como Posicionar e Usar Correta e Elegantemente à Mesa
- 7 Leis Herméticas: Podem Mudar Sua Visão de Mundo
- Como o Trabalho Pode Adoecer
- Como os Empregados Interpretam Crises nas Empresas: Um Olhar a Partir de Estudos Científicos
- O Tédio no Trabalho e Sua Resignificação no Ambiente Corporativo
- Como Empresas e OSCs Podem Implementar ESG