Por: Dr. Sérgio Ricardo Hototian, psiquiatra no Hospital Sírio-Libanês e professor da Faculdade de Medicina da Universidade de Santo Amaro (Unisa)

Em inglês, a expressão borderline refere-se a algo que está na fronteira, no limite ou é incerto. Isso ajuda a definir o transtorno de personalidade borderline, também conhecido por transtorno de personalidade limítrofe. Trata-se de um problema de saúde que envolve as áreas de psicologia e psiquiatria, muito difícil de ser diagnosticado. As pessoas que têm esse tipo de transtorno alternam atitudes de forma impulsiva, podendo ter surtos de ódio e, em casos extremos, até tentar o suicídio.

No geral, os surtos relacionados ao borderline referem-se a relações interpessoais após situações de crise no trabalho, pressão da família e brigas com amigos, conta o dr. Sérgio Ricardo Hototian, psiquiatra no Hospital Sírio-Libanês e professor da Faculdade de Medicina da Universidade de Santo Amaro (Unisa). “O ambiente muda muito o humor dessas pessoas, que, em geral, reagem mal quando são contrariadas”, comenta. “Quando a crise é acompanhada de forte paranoia, elas podem chegar a cometer violências físicas contra outras pessoas”, acrescenta o médico.

Uma característica marcante dessa síndrome é a idealização da imagem de algumas pessoas, que pode ir de amor intenso ao ódio, explica o dr. Hototian. “É comum elas gritarem e ofenderem amigos e familiares, por exemplo, mas na sequência comportarem-se como se nada tivesse ocorrido”, comenta.

Em casos extremos, quando chegam a se cortar propositadamente durantes os surtos de depressão, as pessoas com transtorno de borderline também se arrependem assim que se deparam com o ferimento. “A intenção desses pacientes nunca é ser efetivo, mas apenas se penalizar ou mesmo se aliviar”, observa o médico.

Características das pessoas com transtorno de personalidade borderline

  • Carência — Costumam pedir afeto e carinho. Muitas delas tratam grupos de pessoas sem tanta intimidade como se fosse sua família.
  • Rebeldia e excessos — Tendem a desrespeitar as regras, abusam de álcool e outras drogas e têm dificuldade de obedecer às hierarquias no trabalho. Alguns também costumam dirigir em alta velocidade, têm avidez pelo perigo e vivem na “adrenalina”.
  • Instabilidade — Mudam de humor constantemente, passando de situações extremas de alegria para depressão num mesmo dia.
  • Autoflagelação — Podem se cortar, se apertar e fazer machucados pelo corpo como medida de punição.
  • Depressão — Geralmente apresentam padrão de humor depressivo leve.

O que leva ao desenvolvimento do transtorno de personalidade borderline?

As crises de personalidade borderline se manifestam quando essas pessoas passam por conflitos emocionais difíceis ao longo da vida, como mortes, separações, brigas e abuso sexual, sobretudo na infância. Por isso, o auge das crises é a adolescência e a juventude, com tendência de diminuição a partir da fase adulta.

Em muitos casos, o transtorno de personalidade borderline está associado a pessoas que cresceram em ambientes conturbados, explica o dr. Hototian. Segundo o médico, muitas pessoas que têm esse transtorno receberam uma educação caótica e afetos desarmônicos num misto de permanente carência afetiva. “O indivíduo borderline acaba se expressando como uma vítima desse ambiente complicado”, avalia o psiquiatra.

Qual a diferença entre o transtorno de personalidade borderline e a doença bipolar?

Por conta das mudanças no humor, o transtorno de personalidade borderline é muitas vezes confundido com a doença bipolar. No entanto, a alteração entre humor extremo e depressão nas pessoas com transtorno borderline geralmente ocorre dentro de horas ou dias, enquanto que na doença bipolar pode durar semanas ou meses.

A doença bipolar também costuma apresentar crises mais intensas que o transtorno de personalidade borderline, impossibilitando muitas vezes que os pacientes bipolares cumpram suas tarefas cotidianas.

Como é o tratamento e o diagnóstico do transtorno de personalidade borderline?

Outra diferença entre o transtorno de personalidade borderline e a doença bipolar está no tratamento. Medicamentos que fazem a estabilização do humor podem ser efetivos para as pessoas bipolares por vários anos. Já o transtorno de personalidade borderline exige diferentes cuidados, conforme cada crise. Em alguns momentos, esses pacientes podem precisar de medicamentos estabilizadores de humor, em outros, de antidepressivos, ansiolíticos ou até antipsicóticos. A psicoterapia também é imprescindível para a maioria dos pacientes.

O transtorno de personalidade borderline, assim como a doença bipolar, não tem cura, mas com diagnóstico correto e tratamento adequado pode ser controlado, garantindo boa qualidade de vida para as pessoas que têm essa síndrome.

No Brasil ainda há poucos estudos para estimar a quantidade de pessoas que sofrem desse transtorno, mas nos Estados Unidos, dados oficiais apontam que de 1% a 6% da população adulta vive com o transtorno de personalidade borderline.

Diferença entre borderline e bipolar

A primeira grande diferença está na velocidade da troca de humor. O paciente borderline apresenta variações de sentimentos dentro de segundos, minutos ou horas, enquanto o bipolar leva no mínimo uma semana do estado de euforia até o estado de depressão.

Outra diferença está ligada a relação de um borderline com amigos e colegas, dividindo-os em bons ou maus. Não há meio-termo. Se alguém considerado bom fizer algo de ruim, passará a ser imediatamente uma das pessoas que o borderline não gosta. Em outras palavras, o fim de um relacionamento que terminou em briga, por exemplo, jamais teria volta para um borderline.

DEIXE UMA RESPOSTA

Por favor digite seu comentário!
Por favor, digite seu nome aqui