Por O Globo

Acusado de importunação sexual pela colega  Isa Penna (PSOL), o deputado Fernando Cury (Cidadania) prestou depoimento nesta quarta-feira ao Conselho de Ética e Decoro Parlamentar da Assembleia Legislativa de São Paulo (Alesp). Segundo ele, o abraço por trás na colega foi um “gesto de gentileza”.

O conselho se reuniu nesta manhã para ouvir as testemunhas arroladas por Cury, todas mulheres, e ouvir o deputado. Ele é julgado por quebra de decoro parlamentar depois de apalpar Isa Penna em plenário, na noite de 16 de dezembro, quando ela conversava com a Mesa Diretora durante a votação do orçamento do estado.

— Gostaria de aproveitar essa oportunidade para dizer que o abraço que eu dei na deputada Isa Penna foi justamente um gesto que eu quis fazer de gentileza, porque eu ia interromper uma conversa que ela estava tendo com o presidente Cauê Macris (presidente da Alesp) — afirmou Cury no depoimento por videoconferência.

Cury negou ter apalpado o seio de Penna durante a abordagem e afirmou que abraçar e beijar pessoas é “seu jeito de demonstrar carinho”.

— Ainda que tenha sido um abraço e tenha ofendido a deputada Isa Penna, e que esse seja meu jeito, esse episódio me traz muito aprendizado, que esse meu jeito não é tolerado por grande parte das pessoas. E a partir de hoje eu preciso rever meu comportamento, porque muitas pessoas se sentem constrangidas por isso — declarou.

Entre as testemunhas que prestaram depoimento e responderam a questionamentos dos integrantes do Conselho de Ética estavam ex-funcionária, ex-colega de faculdade, chefe de gabinete de Cury e até a orientadora educacional da escola onde o deputado estudou, há mais de duas décadas.

Ao GLOBO, Penna afirmou que “chamar de abraço uma encoxada, uma apalpada, minimizar um ato de assédio assina o atestado da cultura de estupro a que estou sendo submetida”. E comentou uma declaração do perito criminal Edmundo Braun, que participou da oitiva.

— Um perito que fala “não sou especialista em seios” é uma ofensa e mostra a total ausência de preocupação de um homem que está habituado com a impunidade — afirmou.

Na defesa entregue ao colegiado no dia 19, Cury afirmou não ter tido “intenção de assediar Isa Penna sexualmente” e apresentou um laudo técnico, contratado pelo parlamentar, informando “não ter ocorrido toque em ‘região de maior intimidade'”.

Na defesa prévia apresentada em 8 de fevereiro ao colegiado, a defesa de Cury negou ter havido “apalpação de seio” em Penna e se referiu ao gesto como um “rápido e superficial abraço”.

A gravação feita pela câmera da Alesp, que filmava o plenário no momento da abordagem, mostra Isa Penna sendo abraçada por trás pelo colega e o repelindo após toque em seu corpo.

Próximos passos

O conselho aprovou, por 10 votos a 0, a admissibilidade da denúncia contra Cury em 10 de fevereiro. Agora o deputado Emídio de Souza (PT), designado relator do caso, precisa apresentar seu parecer, sugerindo ou não a punição a Fernando Cury.

Composto por nove parlamentares, o colegiado pode decidir pela absolvição, advertência, suspensão ou até a cassação de Cury, desde que seja atinja a maioria, isto é, cinco membros.

Caso a penalidade mais grave seja escolhida, o caso segue para o plenário da Alesp, onde basta maioria simples, de 48 votos, para o parlamentar ser cassado.

Aliados de Isa Penna dizem ser improvável que a Alesp casse o mandato de Cury, e já esperam por uma punição mais branda, como o afastamento do parlamentar, a fim de garantir que haja alguma penalização.

A gente quer a cassação. O justo é a cassação. Mas não vamos nos desencontrar com a realidade política que está no nosso entorno. Então se eles propuserem a suspensão, que seja a máxima. Se eles querem alguns meses (de afastamento), nós queremos um ano no mínimo — declarou Penna ao GLOBO.

Fernando Cury é também investigado pelo Ministério Público de São Paulo e alvo de um processo de expulsão dentro de seu próprio partido, o Cidadania.

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