Por Metrópoles

Estudantes com deficiência representam menos de 1% dos matriculados em faculdades públicas e particulares do Distrito Federal. Segundo a mais recente pesquisa da plataforma Quero Bolsa, somente 0,49% do total de universitários na capital do país é deficiente.

Em 2014, 776 alunos com deficiência cursavam o ensino superior. No decorrer de 2019, o número subiu e chegou a 1.098 estudantes. Percentualmente, o crescimento foi de 41,5%. O estudo se baseou em dados do Censo da Educação Superior 2019, do Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep).

Mesmo com o avanço, as matrículas estão longe de refletir um acesso verdadeiramente inclusivo. Pelos cálculos do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), no Brasil vivem mais de 45 milhões de pessoas com algum tipo de deficiência. Ou seja, 25% da população.

Inclusão

A estudante de letras, português e respectiva literatura da Universidade de Brasília (UnB) Andressa Araújo dos Santos, 21 anos, nasceu com mielomeningocele, doença caracterizada pela malformação congênita da coluna vertebral.

Antes das aulas remotas, impostas para evitar a disseminação do novo coronavírus, Andressa enfrentou dificuldade de locomoção – devido à falta de elevadores, calçadas e rampas. Inclusive, já caiu e se machucou na instituição de ensino.

Segundo a estudante, a UnB está fazendo investimentos em acessibilidade. De acordo com Andressa, a universidade possui um núcleo de apoio aos deficientes para auxiliar na locomoção e oferecer tutoria em sala de aula para quem tem deficiência intelectual. “Isso é pouco divulgado, pouca gente sabe. Muitos abandonam o curso sem saber, aumentando a exclusão”, alertou.

Andressa entrou na UnB pelo sistema de cotas para deficientes. “Existe a mentalidade de que a pessoa com deficiência não pode nem sair de casa, que ela não tem capacidade para disputar uma universidade pública ou particular. Ainda são vistas como pessoas dignas de pena. Isso tem que mudar”, frisou.

Além das paralimpíadas

Guilherme dos Santos Leite foi diagnosticado com deficiência auditiva. Aos 23 anos, cursa direito na UnB. “Já aconteceu de quando eu não entendi o que foi falado as pessoas perderem a paciência. Então, é claro que existe a dificuldade das relações interpessoais”, relatou.

Veja o relato dele:

Para o universitário, a população com deficiência não pode ser lembrada apenas nas paralimpíadas. “A comunidade das pessoas com deficiência é quase invisível no Brasil. A população só lembra da gente nessa competição. O Brasil tem um bom desempenho, é lindo, mas, depois do pódio, de descermos com nossas medalhas de ouro, a gente vai tendo uma derrota atrás da outra na nossa convivência na sociedade”, lamentou.

Preconceito

Segundo Guilherme, o capacitismo é ensinado e alimentado em diversos lares. Para quebrar esse ciclo de preconceito, o estudante pede a criação de espaços de manifestação, fala, voz e posicionamento. “Nós não temos espaços na TV, no ensino acadêmico. Cadê a gente? Precisamos de espaços”, ponderou.

Ranking

No DF, os cursos com menores índices de inclusão de deficientes são: radiologia (0,17%), medicina veterinária (0,15%), agronomia (0,14%), odontologia (0,11%) e gestão comercial (0,10%).

Por outro lado, fazem parte da lista de mais inclusivos: formação de professor em biologia (1,53%), biomedicina (0,89%), jornalismo (0,81%), gestão pública (0,79%) e engenharia mecânica (0,79%).

UnB

Segundo a UnB, a acessibilidade é uma das diretrizes norteadoras das ações de ensino, pesquisa, extensão e gestão desde 1980. Em 2019, foi aprovada a política de acessibilidade.

Em 2020, houve a criação da Diretoria de Acessibilidade (DACES), vinculada ao Decanato de Assuntos Comunitários (DAC). A DACES tem o objetivo de garantir e promover a acessibilidade como uma política transversal na UnB

Atualmente, a DACES atende 378 estudantes e é responsável pelo desenvolvimento de ações e projetos voltados para a acessibilidade arquitetônica, comunicacional, pedagógica, dentre outras dimensões.

No caso de licenciatura em língua de sinais brasileira e português como segunda língua, existem provas adaptadas em Libras. Além das cotas para graduação, há também a política de inclusão na pós-graduação.

Em 2020, a UnB formou seu primeiro estudante surdocego. No atual contexto da pandemia, estão em marcha ações de formação docente e de orientação à comunidade para a promoção de acessibilidade nas plataformas virtuais.

“Os desafios são muitos, mas a UnB tem avançado na perspectiva de sua missão institucional: ser uma universidade inovadora e inclusiva”, afirmou a professora e doutora Sinara Pollom Zardo, titular da Diretoria de Acessibilidade.

Desafio

Na avaliação do especialista e pesquisador em educação do Instituto Expert Brasil Afonso Galvão, o grau de inclusão e estudantes com deficiência é baixíssimo no DF e no Brasil.

Galvão coordenou o departamento de mestrado e doutorado de uma instituição de ensino. E, nesse período, acompanhou a formação de um aluno surdo. O estudante se comunicava por libras, a Língua Brasileira de Sinais. E era preciso de um tradutor em cada aula. E tradução para o português ficava distante da norma acadêmica. “Foi desafiador”, resumiu.

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