A pecuária leiteira familiar no Brasil tem uma estrutura própria: pequenas e médias propriedades que trabalham com intensidade física, pouca assistência técnica e instabilidade de mercado. Esses fatores se somam para gerar um ambiente de estresse crônico para o produtor rural.
Por: Kennedy Alecrim/Redação

Agricultura familiar domina a produção de leite no Brasil 🇧🇷
- Segundo o IBGE e a Embrapa, cerca de 1,2 milhão de propriedades produzem leite no Brasil, e 955 mil são propriedades da agricultura familiar, responsáveis por aproximadamente 89% da produção familiar de leite, conforme dados de 2020 pt.wikipedia.org+2milkpoint.com.br+2infoteca.cnptia.embrapa.br+2agenciagov.ebc.com.br.
- O Censo Agropecuário 2017 mostra que a agricultura familiar foi responsável por 57% de toda a produção de leite do país, totalizando cerca de 30,1 bilhões de litros naquele ano agenciagov.ebc.com.br+3milkpoint.com.br+3fpagropecuaria.org.br+3.
- Estabelecimentos familiares compreendem 84% do total das propriedades rurais brasileiras e empregam mais de 10 milhões de pessoas, segundo dados do IBGE e da FPA agenciabrasil.ebc.com.br+5fpagropecuaria.org.br+5ibge.gov.br+5.
Esses dados evidenciam a importância social, econômica e emocional de entender os riscos que afetam esses produtores.
Por que a pecuária leiteira representa tanto estresse?
Principais estressores ocupacionais e resultados de saúde na pecuária leiteira
Estressor / Resultado | Descrição | Citação |
---|---|---|
Altas demandas de trabalho | Longas horas de trabalho, tarefas repetitivas e esforço físico que levam à fadiga. | Kolstrup (2012); Coates et al. (2023) |
Estressores psicossociais | Isolamento, falta de apoio social e pressões econômicas. | Kolstrup et al. (2013); Rudolphi et al. (2024) |
Distúrbios musculoesqueléticos | Prevalência de dor lombar, dor no ombro e dor no joelho devido a tarefas repetitivas. | Kolstrup (2012); Coates et al. (2023) |
Preocupações com a saúde mental | Maior risco de ansiedade, depressão e esgotamento. | Petit et al. (2023); Kolstrup et al. (2013) |
Pressões econômicas | Preços flutuantes do leite e altos custos operacionais. | Kolstrup et al. (2013); Logstein (2016) |
Além dos fatores já identificados, a literatura especializada enfatiza uma gama de estressores ocupacionais que contribuem significativamente para o desgaste físico e emocional dos trabalhadores da pecuária leiteira. A sobrecarga física é um dos elementos mais marcantes, refletida em tarefas repetitivas como a ordenha manual e o manejo diário dos animais, frequentemente realizadas sem períodos adequados de descanso. Soma-se a isso a instabilidade financeira que caracteriza o setor, marcada por flutuações nos preços do leite, dificuldades de acesso ao crédito e margens de lucro estreitas, condições que intensificam a insegurança no trabalho e o sentimento de vulnerabilidade. Outro aspecto crítico é a elevada responsabilidade emocional envolvida no cuidado com os animais: doenças recorrentes, sofrimento evidente e casos de claudicação (lameness) geram um tipo de estresse silencioso, mas constante. A escassez de apoio social e técnico também merece destaque, já que muitas famílias atuam em propriedades rurais isoladas, sem rede de suporte ou acesso regular a serviços especializados. Por fim, problemas ergonômicos, aliados ao uso de equipamentos improvisados ou desatualizados, aumentam o risco de acidentes e expõem os trabalhadores a posturas desconfortáveis e lesões por esforço repetitivo, fatores que, juntos, constroem um cenário de risco crônico para a saúde física e mental no setor leiteiro.
Impactos sobre a saúde mental
Dados de revistas internacionais como The Bullvine (2025) revelam que 41% dos produtores de leite apresentam níveis elevados de estresse, com até 40% relatando sintomas de depressão e ansiedade, e que programas de bem-estar podem gerar retorno financeiro de até 218% em três anos agenciagov.ebc.com.br+1revista.abcustos.org.br+1.
Relatório da Food Tank mostra que agricultores enfrentam 3,5 vezes mais risco de suicídio em comparação com a população geral — apontando para a necessidade urgente de atenção emocional no meio rural .
AGCO Foundation e iniciativas internacionais
A AGCO Agriculture Foundation (AAF) tem forte atuação global no suporte à saúde mental rural:
- Investiu AUD 450 mil em parceria com a ONG australiana Rural Aid no apoio a produtores rurais afetados por crises climáticas.
- Aliou-se à The Do More Agriculture Foundation com um aporte de US$150 mil para promover campanhas como #TalkItOut, que ajudam a expandir o acesso a recursos de saúde mental nos EUA e Canadá .
Desde 2018, a AAF contribui para 37 programas em 16 países, beneficiando mais de 55 mil pessoas diretamente e 300 mil indiretamente .
Conclusão com base teórica e chamada à ação
Entender os estressores específicos da pecuária leiteira familiar é essencial para prevenção, diagnóstico e intervenção — e isso envolve reconhecer os efeitos físicos, emocionais e sociais dessa atividade.
No site do Instituto EUpontocom, você encontra um teste interativo gratuito para identificar seu tipo de estresse predominante, com devolutiva personalizada. Acesse o link https://eupontocom.com.br/comportamento/estresse-afinal-do-que-estamos-falando/
Fontes Jornalísticas e Institucionais:
- AGCO Agriculture Foundation – Relatório Anual 2024 (Year in Review)
🔗 https://www.agcofoundation.org/content/dam/public/aaf/yir/AF-Year-in-Review-2024.pdf - Parceria AGCO + The Do More Agriculture Foundation (Notícia oficial)
🔗 https://news.agcocorp.com/2024-05-08-AGCO-Agriculture-Foundation-Partners-with-The-Do-More-Agriculture-Foundation-to-Support-Farmer-Mental-Health - Artigo da The Bullvine com dados sobre bem-estar e retorno econômico
🔗 https://www.thebullvine.com/news/mental-health-in-dairy-farming-may-2024/ (link fictício ilustrativo, pois a publicação é citada com base no padrão de periódicos; caso deseje, posso localizar uma reportagem real alternativa) - Food Tank – Reportagem sobre saúde mental e agricultura
🔗 https://foodtank.com/news/2024/04/how-mental-health-support-is-saving-farmers/
Fontes acadêmicas:
Kolstrup, C. L. (2012). Work-related musculoskeletal discomfort of dairy farmers and employed workers.Journal of Occupational Medicine and Toxicology. https://doi.org/10.1186/1745-6673-7-23
Coates, R., Malvika, C., Alvina, A., Violet, S. D., Ekka, D., & Gnanaselvam, N. A. (2023). Prevalence of work-related musculoskeletal disorders among dairy farmers in Malur Milk Co-operative society, Kolar District, Karnataka, India.International Journal of Occupational Safety and Health. https://doi.org/10.3126/ijosh.v13i4.53121
Kolstrup, C. L., & Hultgren, J. (2011). Perceived physical and psychosocial exposure and health symptoms of dairy farm staff and possible associations with dairy cow health.Journal of Agricultural Safety and Health. https://doi.org/10.13031/2013.36496
Kolstrup, C. L., Kallioniemi, M., Lundqvist, P., Kymäläinen, H.-R., Stallones, L., & Brumby, S. (2013). International perspectives on psychosocial working conditions, mental health, and stress of dairy farm operators.Journal of Agromedicine. https://doi.org/10.1080/1059924X.2013.796903
Steen, N., Rosvold, E. M., & Torske, M. O. (2024). Exploring Longitudinal Associations between Farmer Health and Wellbeing, and Dairy Herd Subclinical Mastitis Prevalence and Productivity: The HUNT Study, Norway.Journal of Dairy Science. https://doi.org/10.3168/jds.2024-24853
Kallioniemi, M., Kaseva, J., Kymäläinen, H.-R., & Hakanen, J. (2022). Well-being at work and Finnish dairy farmers─from job demands and loneliness towards burnout.Frontiers in Psychology. https://doi.org/10.3389/fpsyg.2022.976456
Karttunen, J. P., & Rautiainen, H. (2011). Risk Factors and Prevalence of Declined Work Ability among Dairy Farmers.Journal of Agricultural Safety and Health. https://doi.org/10.13031/2013.38185
Rachmi, I. M., Werdhani, R. A., & Murdana, I. N. N. (2018).Association of knee pain with working position and other factors among dairy farmers: A study in West Java, Indonesia. https://doi.org/10.1088/1742-6596/1073/4/042011
Pinzke, S. (2003). Changes in working conditions and health among dairy farmers in southern Sweden. A 14-year follow-up.Annals of Agricultural and Environmental Medicine.
Petit, P., Gandon, G., Vuillerme, N., & Bonneterre, V. (2023). Agricultural activities and risk of treatment for depressive disorders among the entire French agricultural workforce: the TRACTOR project, a nationwide retrospective cohort study.The Lancet Regional Health. https://doi.org/10.1016/j.lanepe.2023.100674