Por: Y! Vida e Estilo Internacional

Muitas pessoas entendem que, para proteger a saúde mental e a relação com as pessoas, é preciso definir limites saudáveis, seja para equilibrar trabalho e vida pessoal ou deixar claro para as pessoas que assuntos sensíveis, como seu peso ou vida amorosa, não devem ser abordados. Manter limites firmes podem nos dar uma maior sensação de controle, paz e segurança. No entanto, o que muitas vezes não se percebe é como a oportunidade de estabelecer limites pode beneficiar aqueles a quem normalmente não cabe essa função: as crianças.

Ensinar uma criança a estabelecer limites é um “real presente”, diz um psicólogo infantil. (Foto: Getty Creative)
Ensinar uma criança a estabelecer limites é um “real presente”, diz um psicólogo infantil. (Foto: Getty Creative)

Embora adultos sejam exaltados quando impõem limites ou se afastam de situações tóxicas ou insatisfatórias, crianças que agem dessa forma são vistas como provocadoras ou indisciplinadas. Às vezes, são rotuladas de “enjoadas” ou “difíceis”, ou são criticadas por “desistir”. Quando um adulto diz “não”, é sinal de força; uma criança, é sinal de insubordinação. Porém, para Barbara Greenberg, psicóloga clínica especializada no tratamento de adolescentes, estimular as crianças a desenvolver a capacidade de definir limites e, ao mesmo tempo, incentivá-las a descobrir exatamente o que as faz sentir conforto e segurança – e o que não – é um ato de muito valor por parte dos pais.

“Ensinar seu filho a dizer não e abrir mão do que não o beneficia é estimular seu crescimento”, pondera Barbara ao Yahoo Vida e Estilo. “Ao ensinar as crianças a definir limites, você estimula o desenvolvimento emocional, a confiança e a capacidade de aprendizado delas. É bom para todos.”

Nas primeiras sessões com novos pacientes, Barbara pergunta não só sobre os pontos fortes e desafios do jovem, mas também “o que contribui e o que não contribui para a vida deles hoje”, explicando que ajudar as crianças a identificar o que (ou quem) é a causa de estresse ou sentimentos ruins pode levar à definição de soluções úteis. De antemão, ela ressalta as áreas mais comuns para a imposição de limites e orienta os pais sobre como ajudar.

Entenda o que os limites podem representar para uma criança

Os limites podem variar bastante, mas normalmente permeiam as interações da criança com as pessoas. Talvez seja se distanciar de um grupo de amigos que traz uma sensação de tristeza ou exclusão ou impor limites para um amiguinho que exija muito do seu tempo.

Pode ser também dizer aos adultos com quem ela convive que ela não se sente confortável em responder a perguntas sobre sua aparência física ou que preferem iniciar o contato físico em vez de receber um aperto nas bochechas da vovó. Talvez já tenha crescido o suficiente e prefere tomar banho sozinha para ter mais privacidade.

Ensinar uma criança a estabelecer limites é um “real presente”, diz um psicólogo infantil.
Ensinar uma criança a estabelecer limites é um “real presente”, diz um psicólogo infantil. (Foto: Getty Creative)

E, assim como um adulto se esforça para definir limites em busca de ter uma vida equilibrada, a criança talvez precise ter menos compromissos (aulas de piano, clubes extracurriculares, dias para brincar) ou ajustar sua agenda caso se sinta esgotada ou sobrecarregada.

Como Barbara diz: “nem sempre dizer ‘não’ é realmente dizer ‘não'”. Distanciar-se de uma situação desagradável pode ter o mesmo efeito de dizer “não”.

Oriente as crianças sobre as próprias emoções

Entender quais limites são necessários pode ser uma tarefa complexa se a criança é jovem demais para expressar plenamente o que a está irritando. Ensinar as crianças a identificar seus sentimentos — ou passar a elas o que Barbara chama de “a linguagem das emoções” — é o primeiro passo da especialista para ajudá-las a processar situações desconfortáveis e criar os limites adequados para esses momentos.

“Em primeiro lugar, é preciso ensinar a criança a identificar o que traz esse sentimento ruim”, afirma ela. “O que traz boas sensações? O que faz com que ela sinta raiva? E paz?”.

Ensinar uma criança a estabelecer limites é um “real presente”, diz um psicólogo infantil.
Ensinar uma criança a estabelecer limites é um “real presente”, diz um psicólogo infantil.(Foto: Getty Creative)

Quando a criança entende melhor como identificar esses sentimentos, os pais podem discutir sobre como lidar com essas emoções. Se alguém está irritado porque o amigo não devolveu o brinquedo emprestado, pode reagir com raiva ou usar um limite, como estabelecer o que pode ser emprestado, para ajudar a resolver conflitos futuros.

Isso não significa que a criança só deve se envolver em situações que tragam sensações boas. Recusar-se a fazer o dever de casa ou a comer brócolis não justifica estabelecer limites, mas se algo é desnecessariamente irritante ou desgastante, como ter tantas atividades extracurriculares que não sobra tempo para nada, implementar alguns limites razoáveis vai fazê-la se sentir ouvida.

Dê o exemplo como alguém que impõe limites

Normalmente, os pais estão acostumados a dizer “não” milhares de vezes no dia — mas essa mensagem costuma ser direcionada a uma criança tentando pular da bancada da cozinha, dar doces para o cachorro ou implorando para ficar acordada até tarde em dia de semana.

No entanto, nas nossas interações com outros adultos, muitos entram no modo “agradar a todos” e buscam ao máximo ser dóceis. Essa postura pode se manifestar quando alguém concorda em hospedar parentes que acabaram de anunciar seus planos de viagem de última hora, assumir tarefas extras mesmo quando não se tem tempo disponível ou não repreender o vizinho pelas perguntas invasivas.

Essa compulsão por agradar e dizer “sim” apesar da vontade contrária pode ser “problemática”, aponta Barbara, e comunica aos seus filhos que priorizar as próprias necessidades são errados.

Ensinar uma criança a estabelecer limites é um “real presente”, diz um psicólogo infantil.
Ensinar uma criança a estabelecer limites é um “real presente”, diz um psicólogo infantil. (Foto: Getty Creative)

Os pais deveriam mostrar aos filhos como definem seus próprios limites, mesmo que seja algo básico, como desligar o celular à noite, encontrar tempo para si ou não se voluntariar para acompanhar mais uma excursão. Explicar seu motivo para definir esses limites e dizer “não” a algo pode ajudar a reforçar a ideia de que é fundamental priorizar-se e evitar a exaustão emocional.

Ajude as crianças a lidar com problemas de amizade

Segundo Barbara, uma das fontes mais comuns de estresse e conflito são nossos relacionamentos, e isso vale para qualquer idade. Embora adultos costumem dizer a si mesmos que crianças são resilientes, um conflito com um colega da escola ou amigo pode ser difícil de superar, independentemente de envolver briga física ou apenas a sensação de esgotamento emocional ou apreensão em relação a alguém. Mas, como mãe, Barbara aconselha abordar essa situação com cautela em vez de tentar resolver o problema imediatamente.

Digamos que uma criança esteja chateada por ter sido maltratada por um colega da escola. Barbara recomenda conversar com a criança sobre o que ela sente e perguntar o que ela se sente confortável em fazer para resolver a situação. O pai e a criança podem pensar juntos em ideias, mas Barbara alerta que “não se deve dizer à criança o que fazer [se] ela não se sente confiante em agir assim, o que a fará se sentir pior”.

Ensinar uma criança a estabelecer limites é um “real presente”, diz um psicólogo infantil.
Ensinar uma criança a estabelecer limites é um “real presente”, diz um psicólogo infantil. (Foto: Getty Creative)

Um dos pais pode sugerir que a criança mude de lugar na sala para se afastar do colega ou fale diretamente a ele que não se sente confortável com o jeito dele de falar mas, em último caso, a solução e o limite ideais são aqueles que a criança se sente confiante em implementar.

Respeite os limites que seu filho definiu

Respeitar limites não é entregar o controle para seus filhos. Cada pai ou mãe define suas próprias regras rígidas sobre assuntos como escola, hora de dormir e refeições, entre outros, mas ouça quando a criança pedir para mudar algo. Talvez ela só precise de espaço depois de um dia difícil ou não queira mais falar sobre qual coleguinha ela quer namorar.

Talvez ela prefira um “bate aqui” em vez de um abraço na hora de dormir. Se ela está receosa de ir à festa de aniversário de um amigo ou não quer fazer balé esse ano, converse para entender como ela se sente e discutir quais limites seriam corretos. Você é o pai ou mãe, sim, mas também um amigo, e respeitar os limites das crianças pode ajudá-las a se sentir confiantes e protegidas.

Para Barbara, “ensinar aos filhos, ainda novos, que eles podem definir limites e parâmetros para a própria vida é uma coisa bela, uma verdadeira dádiva”.

Veja as promoções que separamos para você?

Veja Também:

DEIXE UMA RESPOSTA

Por favor digite seu comentário!
Por favor, digite seu nome aqui