Por: Kennedy Alecrim / Redação
Por trás do silêncio dos escritórios, da rotina acelerada dos hospitais e da pressão constante das reuniões virtuais, esconde-se um fenômeno crescente: o estresse ocupacional. Embora o termo pareça genérico, ele se manifesta de maneiras distintas e possui classificações bem definidas por especialistas em psicologia e saúde pública. A compreensão desses tipos é essencial não apenas para o diagnóstico e tratamento, mas também para a prevenção e manejo saudável da vida profissional.

De acordo com a American Psychological Association (APA), o estresse pode ser dividido em três categorias principais: agudo, agudo episódico e crônico. O estresse agudo é o mais comum e aparece em situações pontuais, como uma apresentação importante ou um conflito momentâneo. Ele mobiliza o corpo e a mente para lidar com desafios de curto prazo e, uma vez resolvido o problema, os níveis de tensão tendem a baixar. Já o estresse agudo episódico ocorre quando esses eventos se tornam frequentes. Profissionais que estão constantemente sob pressão, enfrentando crises recorrentes, prazos apertados e multitarefas, acabam vivendo em um estado de alerta contínuo, o que compromete a capacidade de recuperação do organismo.
A situação se agrava ainda mais com o estresse crônico, caracterizado por uma exposição prolongada a fatores estressores como ambientes tóxicos, insegurança no emprego, sobrecarga persistente e ausência de controle sobre o próprio trabalho. Segundo dados da revista científica Verywell Health, o estresse crônico está associado a condições graves como depressão, doenças cardiovasculares e distúrbios autoimunes, justamente por sua natureza contínua e sem alívio.
Mas quem são as pessoas mais afetadas por esse cenário? Um levantamento realizado por uma empresa internacional de análise de software revelou que 59% dos trabalhadores com menos de 35 anos relatam sofrer com estresse no trabalho, enquanto a média entre os acima dessa faixa etária cai para 50%. Em relação ao gênero, a diferença é ainda mais gritante. O mesmo estudo indica que 54% das mulheres sofrem com estresse ocupacional, comparado a 45% dos homens. O fenômeno é agravado pelo burnout: em 2022, mais da metade das mulheres entrevistadas em uma pesquisa da Deloitte afirmou ter experimentado exaustão emocional associada ao ambiente de trabalho.
Quando o recorte é feito por segmento profissional, os dados também são alarmantes. Profissionais da saúde, especialmente durante e após a pandemia, figuram entre os mais afetados, assim como professores da rede pública. O jornal The Times noticiou que mulheres com mais de 55 anos, por exemplo, perdem em média 1,3 dias por ano de trabalho devido a sintomas relacionados ao estresse, enquanto os homens da mesma faixa etária perdem menos da metade desse tempo.
Na área de tecnologia, particularmente em cibersegurança, os números são igualmente preocupantes. Um artigo científico recente, publicado em uma base de dados internacional de acesso aberto, apontou que 44% dos profissionais de segurança da informação sofrem de burnout severo, reflexo de longas jornadas, exposição contínua a riscos e responsabilidades mal distribuídas.
Do ponto de vista teórico, o modelo demanda-controle, proposto por Robert Karasek, continua sendo uma das estruturas mais eficazes para entender o estresse ocupacional. Ele indica que o risco aumenta significativamente quando há alta demanda de trabalho combinada com baixo controle sobre as tarefas. Esse cenário, somado à falta de apoio social, configura uma verdadeira armadilha para a saúde mental. Outros autores, como Johannes Siegrist, acrescentam a dimensão do desequilíbrio entre esforço e recompensa como fator decisivo para o adoecimento.
Ambientes tóxicos também têm grande peso. Casos de assédio moral, competitividade destrutiva e ausência de reconhecimento são frequentes em relatos de pessoas que desenvolveram sintomas de estresse crônico. E o excesso de horas trabalhadas potencializa o problema: segundo estimativas da Organização Mundial da Saúde, jornadas superiores a 55 horas semanais aumentam em até 35% o risco de acidente vascular cerebral.
No Brasil, apesar da escassez de dados unificados, a percepção clínica e a observação de especialistas indicam que o contexto é semelhante. Trabalhadores de setores como educação, saúde, tecnologia, comércio e segurança apresentam sinais cada vez mais claros de sobrecarga emocional. A informalidade e a ausência de políticas organizacionais de bem-estar dificultam o enfrentamento sistêmico do problema.
Nesse cenário, oferecemos a você o IEPSS — Informal Perceived Stress Scale, uma exclusividade de nosso site para ajudar o trabalhador a compreender melhor seus próprios limites. Mais do que apontar um número, a escala identifica em que tipo de situações o estresse está se concentrando: se decorre da falta de controle, do excesso de demandas ou das frustrações do dia a dia. Com base nesse diagnóstico, é possível direcionar ações práticas, como reorganização da agenda, ampliação do suporte emocional, adoção de pausas conscientes e, se necessário, busca por ajuda profissional.
Como reforça a psicologia organizacional contemporânea, o estresse não deve ser tratado como fraqueza pessoal, mas como resposta adaptativa a ambientes mal estruturados. Identificá-lo a tempo é uma estratégia de sobrevivência, e, acima de tudo, de preservação da dignidade no trabalho.
Informal Perceived Stress Scale – IEPSS
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Referências:
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