Por: Kennedy Alecrim/Redação
Estudo mostra que, mesmo com altos PIBs agropecuários, municípios registram déficits em educação, desenvolvimento rural e proteção social
A presença do agronegócio não garante qualidade de vida nos municípios mais ricos do setor no Brasil. Levantamento da Agenda Pública (AP) com as 50 cidades de maior PIB agropecuário do país revela que trabalhadores rurais e pequenos produtores ainda enfrentam desigualdades significativas.

O estudo analisou seis variáveis — educação, saúde, infraestrutura, proteção social, desenvolvimento rural e gestão pública — e calculou um índice de bem-estar social de 0 a 1. A média foi 0,48, classificada como “média”. Nenhum município atingiu o patamar “alto” (acima de 0,6).
Desempenho regional
Das 50 cidades avaliadas, 31 estão no Centro-Oeste, dominado pela produção de grãos e exportação, e 11 no Nordeste, onde déficits históricos de desenvolvimento e acesso a serviços persistem, especialmente na região do Matopiba (Maranhão, Tocantins, Piauí e Bahia).
Cascavel (PR) liderou o ranking geral com 0,57. Correntina (BA) ficou na última posição com 0,42. Segundo Sérgio Andrade, diretor-executivo da AP, “o tamanho da economia agropecuária ou da população não explica, por si só, o desempenho nos indicadores”.
Gestão pública como fator decisivo
O levantamento aponta que cerca de 25% da variação nos resultados se deve à qualidade da gestão pública — medida por endividamento, liquidez, transparência, transformação digital e existência de ouvidorias. Campos de Júlio (MT) obteve 0,78, o melhor desempenho nessa área. Santana do Mundaú (AL), com PIB majoritariamente do agro (87,9%), ficou na última colocação.

Principais gargalos
Entre as variáveis, educação apresentou os piores índices. Balsas (MA) teve o menor resultado e Rio Verde (GO), a maior nota (0,59), ainda abaixo do nível “alto”. O estudo aponta que a deficiência educacional nas áreas rurais compromete inovação, adoção de tecnologias e sucessão geracional.
No desenvolvimento rural, foram considerados o número de estabelecimentos familiares, produtividade, acesso à tecnologia, assistência técnica e presença de jovens no campo. Mesmo cidades com grandes receitas agrícolas, como Sorriso (MT), tiveram desempenho baixo. Sapezal (MT) foi a única a figurar entre as líderes de PIB e também no topo desse indicador.
Mais da metade das cidades avaliadas não atingiu nota 0,3. Apenas seis superaram 0,4. “Quanto mais distante dos centros urbanos, maior a marginalização da população rural”, afirma Andrade.
Riqueza concentrada e exclusão social
Especialistas apontam que a concentração da riqueza em grandes grupos mecanizados faz o dinheiro circular fora do município, deixando de beneficiar jovens, mulheres e agricultores familiares. Para Renato Alves de Oliveira, da Universidade Estadual de Ponta Grossa, há um “descolamento entre o Brasil do agronegócio e o Brasil real”. O estudo conclui que a geração de riqueza, isoladamente, não garante melhorias estruturais e sociais. A Agenda Pública pretende apresentar os resultados às prefeituras e autoridades federais, com recomendações para fortalecer a governança e promover desenvolvimento sustentável.
Fonte:
Camargo, I. (2025, 12 de agosto). Cidades ricas do agro têm condição de vida pior: Pesquisa mostra desequilíbrio nos 50 municípios com maior PIB agropecuário do país. Valor Econômico. https://valor.globo.com/brasil/noticia/2025/08/12/cidades-ricas-do-agro-tem-condicao-de-vida-pior.ghtml