Vazamento de documentos revelaram doações e listas de associados dos grupos espanhóis HazteOir e CitizenGO, que têm atuação no Brasil
Por: Andrea Dip; Clarissa Levy; Ethel Rudnitzki; Laura Scofield; Mariana Correia / operamundi.uol.com.br
Brasileiros estão entre os principais sócios dos movimentos ultraconservadores de extrema direita HazteOir e CitizenGO, sediados em Madri, na Espanha. Documentos publicados pelo WikiLeaks – em vazamento nomeado “A Rede da Intolerância” – revelam a mobilização dos grupos que promovem agendas antidireitos, como iniciativas contra o aborto legal e contra pautas LGBTQIA+, em vários países. Entre os mais de 17 mil arquivos, a Pública encontrou uma lista que cita mais de 200 brasileiros que seriam sócios das organizações. Entre eles há servidores públicos, ex-candidatos a cargos políticos, empresários, médicos, juristas e nomes ligados a grupos que disseminam desinformação no Brasil.
A CitizenGO foi lançada como plataforma internacional da HazteOir em 2013, tornando-se o guarda-chuva do grupo ultracatólico, que já realizava campanhas LGBTfóbicas e contra direitos reprodutivos na Espanha desde 2001, e que também é conhecida por possíveis conexões com a sociedade secreta católica El Yunque, do México. Apesar da mudança de nome, a principal estratégia de atuação continuou sendo o ciberativismo, com a organização de petições on-line, e o lobby político.
Na justificativa para o vazamento dos documentos (veja a íntegra do comunicado traduzido para o português aqui), o WikiLeaks afirma: “Ambas, a HazteOir e a CitizenGO, veiculam suas campanhas e outros trabalhos usando o disfarce de princípios familiares, mas os documentos vazados evidenciam que seus valores são traçados em um universo ultraconservador cristão. Eles fazem muitas ações on-line através de petições, mas também trabalham no mundo real. Como, por exemplo, com o “Ônibus do Ódio” – um ônibus laranja brilhante que estampa slogans como ‘Meninos são Meninos’ e faz tours pela Espanha e América”. O comunicado se refere ao “Free Speech Bus”, ônibus que carrega mensagens transfóbicas pela Europa e Estados Unidos.
Microdoações voluntárias (grassroots) são a principal fonte de renda da CitizenGO, segundo seu site. De acordo com os documentos vazados, em 2014 brasileiros fizeram 102 doações para a entidade, totalizando 1.222,18 euros. Um documento interno da CitizenGO, acessado pela Pública em colaboração com o site mexicano Contralínea, mostra o Brasil como o quinto país em volume desse tipo de doações, atrás apenas de Itália, Polônia, Reino Unido e Espanha, onde fica a sede. Nas Américas, segundo esses documentos, os brasileiros lideram os apoios financeiros ao grupo ultraconservador, ficando à frente de países como México, Canadá e Estados Unidos.
A lista com mais de 200 nomes de cidadãos brasileiros identificados como sócios, à qual a reportagem teve acesso e que também está entre os documentos reunidos pelo WikiLeaks, mostra 182 pagamentos feitos na moeda brasileira BRL (real); um montante de R$ 1.873,05, com doações entre R$ 0,87 e R$ 28,94. Esse outro documento não detalha o montante doado por cada sócio, nem a data dos repasses, mas é possível saber que os apoiadores são de várias localidades: desde capitais como Brasília, Manaus, Fortaleza, Belo Horizonte, Goiânia e São Paulo até cidades como Ouro Branco, em Minas Gerais. Há ainda uma outra lista com quatro doadores brasileiros, que registra repasses feitos em 2009, no valor total de 140 euros.
Em entrevista à Pública, no entanto, o pesquisador e secretário do Fórum Parlamentar Europeu para os Direitos Sexuais e Reprodutivos, Neil Datta, afirma que as doações mais altas à CitizenGO vêm de outras fontes: “A CitizenGO alega que é financiada apenas por pequenas doações feitas por cidadãos, mas isso não é totalmente verdade. Por um lado, ela tem muitas pequenas doações de indivíduos […], mas você não pode simplesmente criar um site e começar a coletar dinheiro sem um capital inicial. E o que o vazamento do WikiLeaks mostra é que, para estabelecer a CitizenGO, a HazteOir fez basicamente o que todos fazem, que é criar um documento com um conceito e mandar para potenciais doadores pedindo US$ 100 mil, US$ 200 mil. E quem são esses doadores que eles abordaram? Primeiro os bilionários espanhóis. […] Famílias ricas, algumas da aristocracia espanhola. Eles abordaram também o bilionário mexicano Patrick Slim, que é suspeito de estar associado ao El Yunque, e dois oligarcas russos [Vladimir Yakunin e Konstantin Malofeev] que tiveram conexão com separatistas ucranianos de extrema direita. Em termos de lavagem de dinheiro, uma coisa que o WikiLeaks mostra é que a CitizenGO também foi financiada por um político italiano [Luca Volontè], que no começo deste ano foi condenado a quatro anos de prisão porque estava recebendo dinheiro ilegal vindo de fontes de corrupção do Azerbaijão em troca de votos contra os direitos humanos do Conselho Europeu. Então você tem o financiamento vindo de famílias aristocratas espanholas, lavagem de dinheiro e oligarcas russos na base da CitzenGO”, explica.
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