Por: Marilia Filgueira Araújo Gomes (convidada) / Kennedy G. de Alecrim

As mudanças do sistema capitalista trouxeram grandes transformações para nossa sociedade, sobretudo nas relações de trabalho. A chamada reestruturação produtiva mudou a estrutura das empresas e a vida dos trabalhadores. Na economia surgiu uma nova forma de produção, mais flexível, onde as empresas fragmentaram as etapas de fabricação e as dividiram entre empresas parceiras. Hoje o uso de empresas terceirizadas acabou se tornando algo muito comum, mas quais seriam as consequências dessa fragmentação na relação de empregado e empregador?  

Além da fragmentação da própria empresa, houve também uma fragmentação da psicodinâmica do trabalho, onde os trabalhadores não executam somente tarefas, mas assumem, quase que de forma inconsciente, as responsabilidades gerenciais, pois existe uma falta de vínculo coercitivo direto entre empresa e empregado, mas o discurso do envolvimento com o trabalho causa essa postura por parte do trabalhador, fora a falta de regulamentação nos contratos de trabalho das empresas terceirizadas, que promovem uma negociação praticamente livre da mão-de-obra, aumentando, substancialmente a jornada de trabalho com salários que, na maioria das vezes, são mais baixos que o piso da categoria aceitaria. 

Nesse novo modelo, os trabalhadores precisaram se tornar polivalentes, não só pela necessidade de especializações múltiplas e constantes, mas também por uma questão de sobrevivência, realizando várias atividades ao mesmo tempo. No caso do modelo Home Office, esse cenário, ainda possui o discurso da liderança sobre a vantagem de uma jornada de trabalho mais flexível, pois o objetivo agora é atingir metas, independentemente de onde o trabalhador estiver.  

Hoje, o trabalhador é contratado, dentre outros motivos, por sua habilidade de adaptação (sua resiliência) e é pré-programado para o uso dos sistemas que as empresas oferecem nos treinamentos e capacitações incessantes. Os trabalhadores controlam seus próprios resultados e os dos colegas. Com os novos sistemas tecnológicos não é necessária uma ordem direta, ou  Feedbacks vindos de um gestor ou gerente, mas isso não quer dizer que os trabalhadores não são mais subordinados, pelo contrário, continuam ainda mais subordinados à estrutura da empresa e também a si próprios, pois assumiram as metas não como tarefas mas como responsabilidades. E isso faz toda a diferença. 

No momento atual, chamado de Sociedade 4.0, sendo uma crítica ao momento anterior onde os três pilares mais relevantes eram, a tecnologia, o mercado e o homem, vivemos a hipermodernidade e a hiperconectividade. A tecnologia avança cada vez mais rápido, trazendo crescimento e inovação para o mercado. Tendências como produtos disruptivos que geralmente são produtos mais simples, acessíveis e baratos do que os que já existem, começam de forma alternativa, crescem e se tornam grandes paradigmas de consumo, deixando obsoleto os produtos que eram líder no mercado a meses atrás.  

O cenário atual parece que veio para ficar. Todos os dias surgem novas formas de trabalho, com relações rápidas, tudo é fragmentado, trabalha-se a curto prazo, o trabalhador tem que ser mais versátil, polivalente, aberto a inovações em um cenário de falta de regulamentações claras sobre novas modalidades de trabalho, como o Uber, e a ameaça do desemprego estrutural. Afinal, os empregos, como conhecemos, estão falindo. 

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