A pesquisa, realizada em um município rural, revelou dados alarmantes sobre a associação entre as condições de vida e a prevalência de TMC nesse grupo específico de trabalhadores.
Por: Kennedy Gomes de Alecrim / EUpontocom
No cenário desafiador da saúde mental, um estudo recente trouxe à tona questões cruciais sobre os Transtornos Mentais Comuns (TMC) e as condições de vida enfrentadas por agricultores e pescadores em áreas rurais. A pesquisa, realizada em um município rural, revelou dados alarmantes sobre a associação entre as condições de vida e a prevalência de TMC nesse grupo específico de trabalhadores.
As condições de vida rurais podem influenciar a saúde mental dos agricultores e pescadores de diversas maneiras. A exposição a fatores como sobrecarga de trabalho, preocupações com a produção e renda, isolamento social, acesso limitado a serviços de saúde mental, condições precárias de moradia e alimentação, além da falta de apoio social e familiar, podem contribuir para o desenvolvimento de transtornos mentais comuns nesses profissionais.
Ao analisar 152 agricultores familiares e/ou pescadores artesanais, o estudo utilizou um questionário abrangente que abordou diversos aspectos das condições de vida desses profissionais, como dados demográficos, moradia, ambiente, modo de produção, renda, educação, lazer, transporte e alimentação. Além disso, foi aplicado o Self-Reporting Questionnaire (SRQ-20) para triagem de TMC, identificando uma associação significativa entre variáveis demográficas e alimentares com a presença desses transtornos.
Um dos achados mais impactantes foi a relação entre o sexo feminino e a prevalência de TMC, destacando que as mulheres nesse grupo são mais suscetíveis a esses transtornos. Essa vulnerabilidade pode ser atribuída, em parte, à sobrecarga de trabalho enfrentada pelas mulheres, que muitas vezes são responsáveis pelo trabalho doméstico, além das atividades na agricultura e/ou pesca.
Os principais transtornos mentais comuns identificados nesse estudo foram ansiedade, depressão e sintomas somáticos, como insônia, esquecimento, desânimo, cansaço, sentimentos de desvalorização e dores difusas pelo corpo. Esses sintomas podem causar sofrimento psicológico e interferir no funcionamento normal do indivíduo, impactando sua qualidade de vida e bem-estar
Essa realidade evidencia a necessidade urgente de ações específicas de atenção à saúde mental na população rural, com foco especial nas mulheres que desempenham múltiplos papéis e enfrentam desafios únicos. A implementação de políticas públicas e programas de saúde mental direcionados a esses trabalhadores é essencial para promover o bem-estar e a qualidade de vida dessas comunidades rurais.
Além disso, a conscientização sobre a importância da saúde mental, a redução do estigma associado aos transtornos mentais e o acesso facilitado a serviços de saúde mental são medidas cruciais para enfrentar esse problema de forma eficaz. A integração da saúde mental nas práticas de atenção primária e a promoção de ambientes de trabalho saudáveis e equitativos são passos fundamentais para garantir o cuidado integral desses profissionais.
Diante dessas descobertas, é fundamental que a sociedade, os profissionais de saúde, os gestores públicos e as organizações não governamentais se unam em prol da promoção da saúde mental na população rural. Somente com esforços colaborativos e ações concretas será possível enfrentar os desafios e garantir o bem-estar psicológico e emocional desses trabalhadores essenciais para o desenvolvimento sustentável das áreas rurais.
Fonte:
Sombra Neto, L. L., de Freitas, R. W. J., Porto, M.M.A, Carneiro, F. F., Pessoa, V. M.. COMMON MENTAL DISORDERS AND RURAL LIVING CONDITIONS: ANALYSIS OF VULNERABILITIES IN FARMERS AND FISHERMEN. Cien Saude Colet [periódico na internet] (2024/Jan). [Citado em 01/03/2024]. Está disponível em: http://cienciaesaudecoletiva.com.br/artigos/common-mental-disorders-and-rural-living-conditions-analysis-of-vulnerabilities-in-farmers-and-fishermen/19059?id=19059
